Há diversas pesquisas que mostram como a saúde mental sofreu abalos durante a pandemia de covid-19. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que prevalência global de ansiedade e depressão aumentou cerca de 25% no primeiro ano – e já em 2020 alertava para que serviços de assistência à saúde mental recebessem mais atenção e fossem ampliados.
Já se vê esse aumento nos dados. O Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Distrito Federal (Sincofarma) aponta que apenas na capital federal a venda de remédios controlados, antidepressivos e ansiolíticos aumento entre 60% e 70% nos últimos dois anos.
O Monitor Global dos Serviços de Saúde, uma pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto Ipsos, indica que a saúde mental é a segunda maior preocupação do brasileiro, apontada por 49% dos entrevistados (atrás apenas, como se poderia esperar, da covid-19, que assusta 62%). Mas o dado realmente preocupante é que a saúde mental representava uma preocupação para apenas 18% da população em 2018.
Trata-se de uma alta muito expressiva. O avanço pôde ser visto desde então: em 2020, a proporção era de 27%, e em 2021 já havia chegado aos 40%. O câncer, comparação, ficou em terceiro lugar, com 29%. O Ipsos entrevistou mil pessoas no Brasil. Ao todo, levantou dados de 34 países, ouvindo pessoas de 18 a 74 anos entre 22 de julho e 5 de agosto deste ano.
Isso pode ser um reflexo do fato de que, com a pandemia, a saúde entrou no foco de uma parcela expressiva das populações de praticamente todos os países. Essa preocupação não deixaria, por certo, a saúde mental de fora. A crise provocada pela doença foi além da gravidade da infecção: muitas mortes foram culpa dos serviços hospitalares saturados.
Também houve os efeitos econômicos: as restrições à circulação paralisaram o comércio, com a consequente redução nos postos de trabalho e aumento do desemprego. Ficar sem trabalho num período de grave crise sanitária, com uma economia em desaceleração foi uma combinação que abalou milhões de pessoas.
Para quem continuou empregado, o cenário não foi muito melhor: tornou-se comum falar em problemas como a síndrome de burnout – condição de esgotamento que afeta hoje um em cada cinco brasileiros, segundo pesquisa também recente feita pela empresa Gattaz Health & Results e liderada pelo presidente do Conselho Diretor do Instituto de Psiquiatria (IPq) da USP, Wagner Gattaz.
Mas o burnout não é uma condição que tenha surgido com a covid-19: esse levantamento vem sendo feito desde 2015. A pesquisa – que já recebeu respostas de mais de 38 mil profissionais desde então – mostra também que 43% dos entrevistados disseram ter experimentado sintomas de depressão; 13% foram diagnosticados com depressão; e 24% sofrem em alguma medida de ansiedade.
Embora a pandemia esteja a caminho do fim, como disse a OMS há algumas semanas, não há como dizer com precisão isso vai acontecer. Estamos muito distantes já do período em que não havia vacinas, e hoje o quadro é positivo em termos de redução tanto de novos casos como de óbitos. A vida vem retomando ares de normalidade, com a segurança maior para atividades de lazer (teatros, cinemas, shows, restaurantes etc.), para ir ao trabalho presencial, escolas e faculdades. Tudo isso ainda com algumas medidas preventivas, claro (máscaras, se for preciso, e higienização das mãos, por exemplo).
Para as empresas, considerar o impacto da saúde mental é fundamental. Políticas de qualidade de vida, apoio aos funcionários na forma de programas de conscientização, benefícios que vão além dos apenas estabelecidos pela legislação, valorização de profissionais (de modo a reduzir a rotatividade), há muitos caminhos pelos quais as companhias podem seguir para preservar a saúde mental de suas equipes. Fazer isso nada mais é que investir nas pessoas, que são o verdadeiro ativo de qualquer empresa.
Fonte: NEWSLAB