Bactéria causadora de febre tifoide se tornou mais resistente, diz estudo

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As bactérias que causam a febre tifoide estão se tornando cada vez mais resistentes a alguns dos antibióticos mais importantes para a saúde humana. É o que revela um estudo publicado nesta terça-feira (21) na revista The Lancet Microbe. A doença é causada pela bactéria Salmonella enterica sorovar Typhi (S. Typhi) e causa:

  • febre alta;
  • dores de cabeça;
  • mal-estar geral;
  • falta de apetite;
  • retardamento do ritmo cardíaco;
  • aumento do volume do baço;
  • manchas rosadas no tronco;
  • prisão de ventre ou diarreia;
  • tosse seca.

De acordo com o Ministério da Saúde, a doença está diretamente associada a baixos níveis socioeconômicos, principalmente em regiões com condições precárias de saneamento básico e higiene. Se não for tratada adequadamente, a febre tifoide pode matar.

A doença é um problema de saúde pública global, causando 11 milhões de infecções e mais de 100 mil mortes por ano. Embora seja mais encontrada no Sul da Ásia – 70% dos infectados no mundo – também tem impactos significativos na África Subsaariana, Sudeste Asiático e Oceania. Segundo os pesquisadores do estudo, a doença precisa de uma resposta global.

A análise do genoma da Salmonella enterica sorovar Typhi (S. Typhi) também revela que cepas resistentes – quase todas originárias do Sul da Ásia – se espalharam para outros países quase 200 vezes desde 1990.

Embora medicamentos antibióticos possam ser usados ​​para tratar infecções de febre tifoide, a eficácia do tratamento tem sido ameaçada pelo surgimento de cepas resistentes de S. Typhi. Os especialistas afirmam que a análise do aumento e disseminação da bactéria resistente tem sido limitada até agora, sendo a maioria das pesquisas baseadas em pequenas amostras.

Análise

Os autores do novo estudo realizaram o sequenciamento do genoma completo em 3.489 amostras de S. Typhi obtidas de coletas de sangue realizadas entre 2014 e 2019 de pessoas em Bangladesh, Índia, Nepal e Paquistão com casos confirmados de febre tifoide. Uma coleção de 4.169 amostras de S. Typhi isoladas de mais de 70 países entre 1905 e 2018 também foi sequenciada e incluída na análise.

Os genes que conferem resistência nos 7.658 genomas sequenciados foram identificados usando bancos de dados genéticos.

As cepas foram classificadas como multirresistentes se contivessem genes que conferem resistência aos antibióticos considerados clássicos de primeira linha como ampicilina, cloranfenicol e trimetoprima/sulfametoxazol.

Os autores também rastrearam a presença de genes que dão resistência a macrolídeos e quinolonas, que estão entre os antibióticos mais importantes para a saúde humana.

O que é o fenômeno da resistência bacteriana

A resistência de microrganismos aos antibióticos é uma das maiores ameaças à saúde global atualmente.

O aumento no número de bactérias resistentes aos medicamentos, chamadas popularmente de superbactérias, coloca em risco a saúde de humanos e de animais. O problema está associado diretamente ao uso excessivo e incorreto dos antibióticos disponíveis.

Os antibióticos são medicamentos capazes de matar ou inibir o crescimento de bactérias. A sua eficácia está associada diretamente ao agente causador da infecção. Isso significa que nem todos os antibióticos são adequados para o tratamento de uma mesma infecção. Por isso, esses medicamentos devem ser utilizados apenas no combate a infecções bacterianas e de acordo com a prescrição médica.

A resistência aos antibióticos acontece quando determinada bactéria se modifica em resposta ao uso dos medicamentos.

“São as bactérias que se tornam resistentes e não os seres humanos. Com o uso inadequado de antibiótico, pode ocorrer um processo de ‘seleção’: enquanto as bactérias ‘sensíveis’ são eliminadas a partir do tratamento, as ‘resistentes’ permanecem e se multiplicam”, explica a pesquisadora Ana Paula Assef, do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no Rio de Janeiro.

Segundo a pesquisadora da Fiocruz, o uso indiscriminado desses medicamentos por instituições de saúde, pela população e em práticas agropecuárias tem contribuído para o aumento da resistência.

Disseminação da bactéria

A análise mostra que cepas resistentes de S. Typhi se espalharam entre países pelo menos 197 vezes desde 1990. Embora essas cepas tenham ocorrido com mais frequência no Sul da Ásia e do Sul da Ásia ao Sudeste asiático, Leste e Sul da África, elas também foram relatadas no Reino Unido, Estados Unidos e Canadá, segundo o estudo.

Desde 2000, as cepas multirresistentes de S. Typhi diminuíram de forma constante em Bangladesh e na Índia, e permaneceram baixas no Nepal (menos de 5% das cepas de febre tifoide), embora tenham aumentado ligeiramente no Paquistão. No entanto, estas linhagens estão sendo substituídas por cepas resistentes a outros antibióticos.

O estudo aponta que mutações genéticas que conferem resistência às quinolonas surgiram e se espalharam pelo menos 94 vezes desde 1990, com quase todas (97%) originárias do Sul da Ásia. As cepas resistentes às quinolonas representaram mais de 85% de S. Typhi em Bangladesh no início dos anos 2000, aumentando para mais de 95% na Índia, Paquistão e Nepal em 2010.

Mutações que causam resistência à azitromicina – um antibiótico amplamente utilizado – surgiram pelo menos sete vezes nos últimos 20 anos. Em Bangladesh, cepas contendo essas mutações surgiram por volta de 2013 e, desde então, seu tamanho populacional aumentou constantemente.

De acordo com os especialistas, as descobertas se somam às evidências recentes do rápido aumento e disseminação de cepas de S. Typhi resistentes às cefalosporinas de terceira geração, outra classe de antibióticos extremamente importante para a saúde.

“A velocidade com que cepas altamente resistentes de S. Typhi surgiram e se espalharam nos últimos anos é um motivo real de preocupação e destaca a necessidade de expandir urgentemente as medidas de prevenção, especialmente nos países de maior risco”, disse o autor principal, Jason Andrews, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, em comunicado.

“Ao mesmo tempo, o fato de cepas resistentes de S. Typhi terem se espalhado internacionalmente tantas vezes também ressalta a necessidade de verificar o controle da febre tifoide e a resistência a antibióticos em geral como um problema global e não local”, completa.

Fonte: CNN BRASIL

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