Nove pessoas com paralisia grave ou total voltaram a andar após receberem estimulação elétrica em um grupo específico de neurônios. O resultado é fruto de uma pesquisa feita pelo Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, em Lausanne, e foi divulgado nesta quarta-feira pela revista Nature.
Entre os nove voluntários que participaram da pesquisa, três tiveram paralisia total. Cinco meses após o início dos testes, eles já podiam suportar seu próprio peso e dar passos usando um andador.
O estudo foi baseado em um método chamado Estimulação Elétrica Epidural (EES), que consiste em implantar dispositivos que disparam correntes elétricas capazes de ativar neurônios da medula espinhal. Esse método é comumente utilizado para aliviar dores na coluna. O diferencial, agora, é o direcionamento dessas correntes elétricas para um conjunto de neurônios específicos, capazes de retomar a conexão entre o cérebro e as células nervosas que controlam a caminhada.
— A quantidade de esperança que esse estudo dá às pessoas com lesão na medula espinhal é incrível — disse Marc Ruitenberg, neurologista da Universidade de Queensland, na Austrália.
Estimulação desligada
Um fato curioso marcou o processo da pesquisa: mesmo com a estimulação desligada, quatro voluntários continuaram andando. Isso foi um indicador de que a estimulação desencadeia a “reconfiguração” dos neurônios espinhais.
— Quando você pensa sobre isso, não deve ser uma surpresa porque no cérebro, quando você aprende uma tarefa, é exatamente isso que você vê: há cada vez menos neurônios ativados à medida em que você melhora nela — disse o neurocientista Grégoire Courtine, autor do estudo, em entrevista à Nature.
— Nosso novo estudo, no qual nove pacientes conseguiram recuperar algum grau de função motora graças aos implantes, está nos dando informações importantes sobre o processo de reorganização dos neurônios da medula espinhal. Podemos, agora, tentar manipular esses neurônios para regenerar a medula espinhal — disse Jocelyne Bloch, neurocirurgiã do Hospital Universitário de Lausanne e coautora do estudo.
A descoberta abre caminhos para outras possibilidades dentro da medicina. Pessoas que tiveram outras funções vitais do corpo comprometidas, como a perda do controle da bexiga, do intestino ou da função sexual também podem ser auxiliadas. Courtine afirma que identificar os nervos responsáveis por essas funções está na lista dos próximos passos do estudo. Ele pretende recrutar de 70 a 80 participantes para um novo teste nos Estados Unidos, em 2024.
Fonte: Globo.com