Entre 27 de março e 6 de maio de 2020, lactantes residentes em qualquer lugar dos Estados Unidos que relataram ser sintomáticas, terem sido expostas a uma pessoa infectada ou ter uma infecção confirmada pelo vírus SARS-CoV-2 foram convidadas a participar do estudo, através de mídias, sites ou por indicação médica. Foram incluídas somente as mulheres com resultado positivo nos testes RT-PCR.
Os dados clínicos foram obtidos através de entrevista por telefone. Amostras de leite materno foram coletadas e enviadas aos pesquisadores de acordo com um protocolo padrão, porém, em alguns casos, as mulheres também forneceram amostras armazenadas coletadas antes da inclusão no estudo, sem obedecer a esse protocolo. Foi desenvolvido um ensaio RT-PCR quantitativo para detectar o SARS-COV-2 no leite materno, além de métodos de cultura de tecido para detectar SARS-CoV-2 competente para replicação no leite materno.
Bancos de leite
Os pesquisadores também simularam as condições de pasteurização comumente usadas em bancos de leite humano (método Holder). O SARS-CoV-2 foi adicionado a amostras de leite materno de 2 doadoras distintas (controles), não contaminadas, que forneceram amostras de leite antes do início da pandemia. As amostras foram aquecidas a 62,5 °C durante 30 minutos e depois arrefecidas a 4 °C. Seguindo esse procedimento, as amostras foram adicionadas à cultura de tecidos. Alíquotas não pasteurizadas das mesmas 2 misturas de leite com vírus foram cultivadas em paralelo.
Foram incluídas 18 mulheres com infecção confirmada pelo SARS-CoV-2. Destas, 77,7% eram brancas não hispânicas, e a idade média foi de 34,4 anos (desvio padrão 5,2 anos). A idade dos bebês variou de recém-nascido a 19 meses. As mulheres forneceram entre 1 e 12 amostras. No total, foram coletadas 64 amostras em vários momentos antes e depois do resultado positivo para SARS-CoV-2 pelo RT-PCR. Todas as mulheres, exceto 1, tinham doença sintomática.
Uma amostra de leite materno tinha RNA de SARS-CoV-2 detectável. Essa amostra positiva foi coletada no dia do início dos sintomas; entretanto, 1 amostra colhida 2 dias antes do início dos sintomas e 2 amostras coletadas 12 e 41 dias depois tiveram resultado negativo para RNA viral. O bebê amamentado não foi testado. Nenhum vírus competente para replicação foi detectável em qualquer amostra, incluindo a amostra que testou positivo para RNA viral. Após a pasteurização de Holder, o RNA viral não foi detectado por RT-PCR nas 2 amostras que haviam sido enriquecidas com SARS-CoV-2 competente para replicação, nem foi detectado vírus cultivável. No entanto, o vírus foi detectado por cultura em alíquotas não pasteurizadas das mesmas 2 misturas de vírus no leite.
Achados
Os pesquisadores observaram que, embora o RNA do vírus SARS-CoV-2 tenha sido detectado em 1 amostra de leite de uma mulher infectada, a cultura viral para essa amostra foi negativa. Portanto, estes dados sugerem que o RNA do SARS-CoV-2 não representou um vírus competente para a replicação e que o leite materno pode não ser uma fonte de infecção para o lactente. Além disso, quando as amostras de controle enriquecidas com vírus SARS-CoV-2 competente para replicação foram tratadas por pasteurização de Holder, nenhum vírus competente para replicação ou RNA viral foi detectável.
O estudo apresenta limitações. Primeira: a amostra é pequena e não aleatória, havendo possível viés de seleção. Segunda: a positividade do RT-PCR foi através de autorrelato. Terceira: antes do protocolo padrão ser instituído, algumas amostras de leite foram autocoletadas.
Conclusão
A relevância desse estudo é mostrar que o leite materno pode não ser uma via de transmissão vertical da COVID-19. Portanto, os pesquisadores descrevem que a amamentação pode ser continuada mesmo na presença da infecção materna, e o leite dos bancos do leite pode ser usado com segurança, sem o risco de transmitir o vírus ao bebê. Estudos com uma amostra maior e uma metodologia mais robusta são necessários para ratificar esses resultados iniciais.
Fonte: PebMed| Autora: Roberta Esteves Vieira de Castro