Por que algumas pessoas têm o olfato superpoderoso

Embora a hiperosmia possa se manifestar devido à genética ou condições raras, algumas pessoas também podem treinar o nariz para apurar o alfato

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Conhecida clinicamente como hiperosmia, a condição é caracterizada por um olfato mais apurado do que a média. Algumas pessoas podem ser mais sensíveis a aromas agradáveis, enquanto outras podem ser mais afetadas por odores ruins.

Como a hiperosmia é relativamente rara, os pesquisadores ainda sabem pouco sobre ela.

Mas algumas razões por trás deste “superpoder” são conhecidos:

Questões genéticas e de saúde

Vários estudos mostram que há uma relação entre a hiperosmia e diversos problemas de saúde — incluindo doença de Lyme, enxaqueca, distúrbios de fluidos corporais e deficiência hormonal —, além de certos medicamentos.

Embora não esteja totalmente claro o que leva à hiperosmia nesses casos, acredita-se que a condição pode ser provocada pelo efeito que essas doenças têm sobre os eletrólitos do corpo, afetando assim os sinais gerados pelos receptores de odores.

Outras pesquisas também sugerem que certas mutações e condições genéticas, como a superexpressão do gene KAL1 — responsável pela produção de uma proteína chamada anosmina-1, que parece controlar o crescimento e o movimento das células nervosas envolvidas no processamento do olfato — estão associadas ao olfato aguçado.

Um estudo mostrou até mesmo que o código genético para uma determinada proteína que se vincula aos cheiros, ajudando-os a alcançar os receptores no nariz, varia entre a população, o que explica por que algumas pessoas podem ter um olfato naturalmente melhor do que outras.

Gravidez

Muitas mulheres que engravidam costumam reclamar de certos cheiros que até então não as incomodava, mas que de repente se tornaram repulsivos. E uma revisão de pesquisas científicas confirmou que algumas grávidas ganham temporariamente um superolfato.

Ao comparar as descobertas de mais de 50 estudos sobre como a gravidez altera o olfato, pesquisadores concluíram que, embora as mulheres grávidas não apresentem um olfato generalizadamente aguçado, elas são possivelmente mais sensíveis a certos odores.

Mas não há evidências suficientes para determinar se a capacidade delas de identificar mais cheiros em geral aumenta.

Apesar de ser um fenômeno comumente relatado, os pesquisadores ainda não têm certeza de por que isso acontece.

No entanto, essa sensibilidade geralmente é temporária, em invés de uma mudança permanente.

Diferenças no cérebro

Um estudo de 2019 teve como objetivo descobrir se os cérebros das pessoas com olfato mais apurado funcionam de forma diferente do normal.

Os pesquisadores compararam 25 homens que declararam ter uma sensibilidade mais aguçada para cheiros, com outros 20 homens que classificaram seu olfato como normal.

Por meio de tomografias do crânio, eles analisaram o volume de massa cinzenta em partes do cérebro associadas ao olfato.

E notaram que nos participantes com superolfato havia um aumento da atividade cerebral em duas áreas importantes, responsáveis por reunir informações sobre cheiros, assimilá-los e memorizá-los.

Mas embora o estudo tenha identificado essas diferenças cerebrais, os pesquisadores não foram capazes de determinar se as mesmas eram de origem genética ou foram adquiridas.

Não é novidade que o cheiro e a memória estão fortemente ligados. Mas as descobertas de um estudo de 2014 sugerem que essa pode ser a base para a hiperosmia.

A pesquisa analisou 55 participantes que diziam ter um olfato melhor que a média. E comparou com um grupo de pessoas da mesma idade e gênero que acreditavam ter um olfato normal.

Os participantes com olfato mais apurado foram convidados a preencher um questionário estruturado sobre suas experiências com determinados cheiros. E associaram certos aromas, como fragrâncias e odores corporais, como suor, a consequências negativas e memórias desagradáveis — descobriram que esses cheiros despertavam sentimentos de irritação e repulsa.

Mas o estudo não investigou se os participantes também eram sensíveis a outros cheiros, então é difícil saber se tinham um olfato normal ou realmente aguçado.

Outros estudos também revelaram que a sensibilidade a certos odores, incluindo o de resinas fenólicas (como formol) e de piridina (cheiro de peixe) em substâncias químicas orgânicas -, está ligada a experiências negativas.

E sugerem que a sensibilidade a esses cheiros se desenvolve com base em experiências negativas no local de trabalho – como, por exemplo, ao ser exposto a odores de substâncias químicas.

Treinamento

Mas será que o olfato mais apurado é um superpoder que dura para sempre ou pode ser temporário?

Em 2003, eu conduzi um estudo com 230 voluntários para testar a profundidade de olfato deles em relação ao cheiro de álcool feniletílico (aroma de rosas) ou eucaliptol (parecido com cheiro de menta). A profundidade está relacionada à menor concentração de um odor que pode ser detectada pelo olfato — conhecida como “limiar”.

Usamos um dispositivo customizado que liberou oito concentrações diferentes de cheiros — alguns quase imperceptíveis, outros muito fortes.

Descobrimos que 2% do grupo demonstrou o que chamamos de “fenômeno superósmico” em um único teste. Outros 10% apresentaram esse fenômeno em vários momentos — o teste foi realizado 10 vezes em ocasiões diferentes, com intervalos de uma semana.

Esse fenômeno se deu quando os participantes conseguiram identificar os cheiros em pelo menos três níveis abaixo daquele em que normalmente detectariam — e foram capazes de continuar detectando os aromas pelo menos 10 vezes ao longo do teste.

O teste foi realizado uma vez por semana durante 10 semanas.

Em quase todos os casos em que ocorreu “superosmia”, o fenômeno foi seguido por uma perda rápida e repentina deste olfato tão apurado antes do fim do teste. Portanto, sem qualquer explicação do por que, fomos capazes de ver evidências de pessoas com olfato aguçado de curto prazo, quando focadas em certos cheiros.

De uma maneira geral, é improvável que todo mundo que tenha um olfato poderoso deva seu “superpoder” aos genes ou a um problema de saúde.

Basta lembrar dos sommeliers ou perfumistas — eles treinam seus narizes para serem capazes de reconhecer uma variedade de cheiros específicos.

Na verdade, o treinamento do olfato pode até permitir que pessoas que sofreram perda olfativa recuperem esse sentido.

Tudo indica que os donos de narizes privilegiados são um misto de pessoas que podem ser geneticamente programadas para sentir cheiros melhor, daquelas que treinam para ter um olfato mais apurado e de outras que apresentam alguma doença subjacente.

Há ainda aquelas, incluindo mulheres grávidas, que podem ter apenas uma sensibilidade a cheiros — e não hiperosmia de verdade.

Fonte: BBC NEWS

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