Uma colaboração entre pesquisadores da Universidade McGill (Canadá) e da Universidade de Montreal, realizou um estudo divulgado ontem no The Journal of Pain — periódico mensal publicado em nome da American Pain Society, comunidade de profissionais que se dedica a transformar políticas públicas e práticas clínica objetivando reduzir problemas relacionados à dor — que, pela primeira vez, observou alterações nas bactérias do trato gastrointestinal de pacientes com fibromialgia.
A síndrome não tem cura e afeta de 2 a 4% da população, os sintomas englobam desde fadiga até distúrbios do sono, dores de cabeça, depressão e ansiedade. Entretanto, a dor crônica generalizada é o que caracteriza a doença.
A pesquisa contou com a participação de um grupo formado por 156 pessoas, sendo que 77 sofriam de fibromialgia, na área de Montreal (Canadá). Após passarem por uma entrevista, os participantes entregaram amostras de sangue, saliva, urina e fezes, que foram comparadas posteriormente com as do grupo de controle — formado por pessoas saudáveis, sendo que algumas delas até moravam com os pacientes de fibromialgia, ou eram seus pais, vizinhos ou filhos.
Foram encontradas cerca de 20 espécies diferentes de bactérias que mostraram alterações de quantidade, tanto aumentando ou decrescendo suas populações, no microbioma dos portadores da doença quando comparadas com o grupo de controle.
Dr. Amir Minerbi, pesquisador na Unidade Alan Edwars de Gestão de Dor do Centro de Saúde da Universidade McGill (MUHC, na sigla em inglês) e primeiro autor do estudo, explica que a equipe utilizou de várias técnicas, incluindo uso de inteligência artifical, para comprovar que as pertubações nos microbiomas dos pacientes não foram ocasionadas por outros fatores conhecidos por também ocasionarem modificações nas bactérias do trato gastrointestinal, como dieta, medicações, idade, atividades físicas, entre outros.
“Descobrimos que a fibromialgia e seus sintomas — dor, fadiga e problemas cognitivos — contribuem mais do que quaisquer outros fatores para as variações observadas nos microbiomas daqueles que tinham a doença.” — ele acrescenta. — Nós também observamos que a severidades dos sintomas estavam diretamente correlacionadas com um aumento na presença ou uma ausência mais proeminente de certas bactérias, algo nunca relatado até então.”
Apesar de ainda não estar elucidade se essas alterações nas bactérias intestinais desses pacientes são apenas sinais da doença ou se desempenham um papel na sua origem, os cientistas esperam que com mais estudos em breve o difícil diagnóstico da doença poderá ser agilizado.
“Usando machine learning [subcampo das ciências da computação que visa o reconhecimento de padrões e teoria do aprendizado computacional em inteligência artificial], nosso computador foi capaz de realizar o diagnóstico de fibromialgia, se baseando apenas na composição do microbioma, com uma precisão de 87%. À medida em que construímos nesta primeira descoberta, com mais pesquisa, nós esperamos poder melhorar a precisão, criando potencialmente um grande salto no diagnóstico” — Emmanuel Gonzalez, do Centro Canadense de Genômica Computacional e o Departamento de Genética Humana da Universidade McGill.
Pacientes podem esperar por até 5 anos pelo diagnóstico final da doença.
A pesquisa abriu diversas portas para os cientistas explorarem, tanto na procura da cura quanto em acelerar o processo do diagnóstico. Como a doença possui uma variedade de sintomas, um dos próximos passos do estudo será verificar se existem variações semelhantes do microbioma gastrointestinal em outros quadros envolvendo dor crônica, como dor na lombar, enxaqueca e dor neuropática.
Existe a dúvida se essas bactérias possuem uma relação causal no desenvolvimento da dor e da fibromialgia, para isso o próximo passo dos pesquisadores será estudar esse desenvolvimento em animais. Além de procurar resultados semelhantes em outros grupos de diferentes partes do globo.
Fonte:Techonology Networks;