Brasil inaugura a maior fábrica de mosquitos geneticamente modificados do mundo para combater arboviroses

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Inovação biotecnológica promete reduzir casos de dengue, zika e chikungunya

O Brasil deu um passo histórico no enfrentamento das arboviroses, com a inauguração, em outubro de 2025, da maior fábrica do mundo de mosquitos geneticamente modificados. A unidade, localizada no interior da Bahia, tem capacidade de produzir até 5 bilhões de mosquitos machos por ano da espécie Aedes aegypti, portadores de uma modificação genética que impede o desenvolvimento de sua prole.

O projeto, resultado de uma parceria público-privada entre o Ministério da Saúde, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a empresa Oxitec, visa controlar a reprodução do vetor responsável por doenças como dengue, zika e chikungunya, que continuam sendo grandes desafios de saúde pública no Brasil e em países tropicais.


🔬 Como funciona a tecnologia

Os mosquitos produzidos na fábrica são machos geneticamente modificados (GM), conhecidos pela sigla OX5034. Eles recebem, por meio de biotecnologia, um gene autolimitante que faz com que suas fêmeas descendentes morram antes de atingir a fase adulta.

Dessa forma, ao serem liberados no ambiente e copularem com fêmeas selvagens, os machos GM geram uma descendência incapaz de se reproduzir, o que reduz progressivamente a população de mosquitos transmissores.

Segundo a Oxitec, testes de campo realizados em cidades brasileiras, como Juazeiro (BA) e Indaiatuba (SP), mostraram uma redução superior a 90 % da população de Aedes aegypti nas áreas tratadas, sem impacto adverso no ecossistema local.


🧫 Base científica e validação regulatória

A estratégia é baseada em anos de pesquisa em engenharia genética e controle biológico de vetores. O método é considerado seguro e ambientalmente sustentável pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que aprovaram o uso experimental e ampliado da tecnologia.

De acordo com um relatório técnico da OMS (2023), o uso de mosquitos GM é uma das abordagens mais promissoras para o controle integrado de vetores (CIV), especialmente em regiões onde o uso de inseticidas perdeu eficácia devido à resistência química.

Além disso, os machos geneticamente modificados não picam humanos nem transmitem doenças, já que apenas as fêmeas se alimentam de sangue. Essa característica torna o método seguro para populações urbanas densas.


🌎 Impacto esperado na saúde pública

A nova fábrica tem potencial para beneficiar mais de 70 milhões de brasileiros em áreas de risco, especialmente durante períodos de alta transmissão, como o verão. Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil registrou mais de 3,2 milhões de casos de dengue em 2024, com picos regionais e aumento de casos graves.

Com a produção em larga escala, o país poderá implementar programas de liberação sistemática dos mosquitos GM em grandes cidades, integrados às estratégias tradicionais de vigilância e saneamento, o que pode reduzir significativamente os surtos de arboviroses nos próximos anos.


🧭 Perspectivas futuras

Os próximos passos incluem a expansão do programa para outras regiões da América Latina e o uso combinado da tecnologia com vacinas e monitoramento genômico de vírus circulantes. Pesquisadores da Fiocruz também estudam adaptar a metodologia para o Aedes albopictus, espécie que tem se expandido no Brasil e também é vetor potencial de arboviroses.

De acordo com o epidemiologista Dr. Maurício Barreto, pesquisador da Fiocruz-Bahia, “essa iniciativa representa uma das maiores aplicações práticas da biotecnologia em saúde pública da América Latina e pode transformar a forma como lidamos com doenças transmitidas por mosquitos.”


📚 Referências bibliográficas

  • World Health Organization. Guidance framework for testing genetically modified mosquitoes. WHO, Geneva, 2023.
  • Oxitec Ltd. OX5034 Aedes aegypti Fact Sheet. 2024.
  • Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Relatório técnico sobre o uso de mosquitos geneticamente modificados no Brasil. Fiocruz, 2025.
  • Ministério da Saúde do Brasil. Boletim Epidemiológico – Dengue, Zika e Chikungunya, 2024.
  • Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Parecer técnico nº 12/2023 sobre o uso experimental do Aedes aegypti OX5034.

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