Histórico da coqueluche no Brasil
A coqueluche, também conhecida como tosse convulsa, é uma infecção respiratória aguda causada pela bactéria Bordetella pertussis. Ela é altamente contagiosa e afeta principalmente crianças não vacinadas. A doença se manifesta por crises intensas de tosse seca seguidas de dificuldade respiratória e, em casos graves, pode levar à morte, especialmente em bebês.
No Brasil, os primeiros registros da doença datam do início do século XX, sendo uma das principais causas de mortalidade infantil até meados da década de 1980.
Com a introdução da vacina tríplice bacteriana (DTP) no Programa Nacional de Imunizações (PNI), em 1973, o país registrou uma redução drástica dos casos. A cobertura vacinal, que chegou a ultrapassar 95% na década de 1990, manteve a coqueluche sob controle por anos.
No entanto, surtos pontuais voltaram a ocorrer em 2014, quando o Brasil enfrentou o maior número de casos desde 1980 — cerca de 8 mil registros e mais de 100 mortes, segundo o Ministério da Saúde. Desde então, a taxa de incidência vinha em queda, mas a pandemia de COVID-19 impactou o calendário vacinal infantil e provocou nova vulnerabilidade populacional.
🧠 Situação atual: aumento de casos em 2025
Em 2025, o Ministério da Saúde confirmou um aumento expressivo de casos de coqueluche em várias regiões do país, incluindo São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. De janeiro a setembro, já foram mais de 1.200 notificações, representando um crescimento de quase 400% em relação ao mesmo período do ano passado.
Os dados foram divulgados pela Agência Brasil e reforçam a preocupação de infectologistas e pediatras. Segundo especialistas, a queda nas coberturas vacinais — que hoje estão abaixo de 80% em diversos estados — é o principal fator para o ressurgimento da doença.
“A coqueluche é uma doença grave, mas completamente evitável com a vacinação. A queda da imunização abre espaço para a circulação da bactéria em crianças e adultos que não receberam reforços”, explica a infectologista Dra. Rosana Richtmann, do Hospital Emílio Ribas (SP).
💉 Vacinação e medidas preventivas
O Programa Nacional de Imunizações (PNI) oferece gratuitamente a vacina pentavalente (que protege contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e Haemophilus influenzae tipo b) para crianças aos 2, 4 e 6 meses de idade, além de reforços com a DTP aos 15 meses e 4 anos.
Desde 2014, gestantes também recebem a vacina dTpa (tríplice acelular do adulto), preferencialmente entre a 27ª e a 36ª semana de gestação, para proteger o bebê nos primeiros meses de vida — período em que ele ainda não completou o esquema vacinal.
O Ministério da Saúde anunciou que intensificará as ações de busca ativa por não vacinados, além de campanhas nas redes de atenção primária para diagnóstico rápido e tratamento com antibióticos.
⚠️ Sintomas e alerta clínico
A coqueluche se manifesta em três fases:
- Catarral – sintomas semelhantes a um resfriado comum (febre baixa, coriza, tosse leve);
- Paroxística – crises intensas de tosse seguidas de ruído característico (“guincho” inspiratório);
- Convalescença – melhora gradual dos sintomas.
Em lactentes, o quadro pode evoluir rapidamente para pneumonia, apneia e convulsões.
O tratamento é feito com antibióticos (como azitromicina ou claritromicina) e isolamento para evitar transmissão.
📊 Desafios e perspectivas
De acordo com o Ministério da Saúde, a meta é recuperar a cobertura vacinal infantil acima de 95% até o final de 2026. O órgão também trabalha na atualização de protocolos clínicos e no reforço da vigilância epidemiológica em estados com maior incidência.
Especialistas ressaltam que a coqueluche é um exemplo de como a perda de confiança nas vacinas e a interrupção do calendário vacinal podem permitir o retorno de doenças antes controladas.
“É fundamental retomar a cultura da vacinação como proteção coletiva e ato de responsabilidade social”, destaca a pediatra Isabella Ballalai, ex-vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
📚 Referências bibliográficas
- Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico de Coqueluche – 2025. Brasília: MS, 2025.
- Agência Brasil. “Casos de coqueluche aumentam e Ministério da Saúde alerta para vacinação”. Publicado em 13/10/2025.
- Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Calendário de Vacinação 2025.
- Fiocruz. Histórico da Coqueluche no Brasil. Rio de Janeiro, 2024.
- Organização Mundial da Saúde (OMS). Pertussis global report 2025.