Na década de 50 no século passado os tempos eram bicudos. Era pós segunda guerra na cidade de Santos no litoral de São Paulo. Os recursos eram limitados, mas já na época tinha o maior porto pais e era o maior exportador do que produzíamos. Além disso, com a criação do polo de Cubatão com sua refinaria e o polo petroquímico que se instalara em Cubatão davam um grande alento à região.
E principalmente o time do Santos havia sido campeão paulista depois de 20 anos. Então surgiam garotos bons de bola aos borbotões que jogavam nas praias e era o local onde sempre treinavam os craques. Inclusive Pelé. Cresci vendo tudo e participando e vi coisas que poucos acreditam, inclusive eu mesmo, quando relembro o passado.
Neste ambiente, observando atenta e sempre presente encontrava-se minha mãe. De nome Gioconda, somente tempos depois é que vim saber que era o nome da madona de Leonardo da Vinci. Ajudava a formar o time, costurando as camisas, os calções e arrumando as bolas. E o mais importante ao final preparava o café com leite, chocolate e bolo para toda molecada. Santos respirava esportes e os campos de futebol eram encontrados em toda a parte que facilmente eram alcançadas pelos bondes da época.
No entanto a Disciplina sempre estava presente e os estudos, escrita e leitura sempre obrigatórias. No passado se lia e se escrevia e a sua letra tinha de ser boa, inteligível porque senão ficava no lápis e na borracha e nunca passaria para a caneta tinteiro. A cobrança era pesada e o risco de não ir ao cinema no domingo iminente.
Crescendo e sempre me acompanhando exigia compromisso e Dedicação em tudo o que fazia e o esporte, não o futebol mais o basketball me abriam perspectivas de viagens e a competições memoráveis desde os onze anos de idade por várias cidades do estado e do país. No momento crucial da adolescência meu objetivo era ser jogador, lembro bem dos times do Palmeiras – no qual joguei- Corinthians e Sírio em São Paulo, Piracicaba, São Carlos e Franca os mais famosos do interior.
O de Santos que havia sido campeão dos Jogos Abertos do interior na minha fase de decisão de vida. Aí surgiu a Determinação de minha mãe, que com habilidade fez com que eu abdicasse do esporte por um tempo e me dedicasse ao vestibular de medicina, que era muito concorrido pois existiam poucas escolas médicas no país.
O esporte universitário também era famoso na época e ela dizia, você pode ir a Universíade ou Olimpíada mesmo sendo estudante de medicina. Você tem de ser médico.
E esta foi a história, resumida neste breve texto, onde relembro que minha mãe foi a minha solução em 3D – Disciplina, Dedicação e Determinação – tríade que utilizo e sempre me acompanha em todas as atividades que exerço e creio que estará presente até o fim de minha vida.
Devo parar pois o choro pode chegar, mas a saudade e os ensinamentos sempre estão presentes.
Gioconda Ruiz (1918 – 2016), natural de São Paulo, Sempre viveu em Santos, SP. Desde 1941, e passou por todas agruras da segunda grande guerra. Filha de italianos, sofreu os problemas das restrições que houveram aos italianos na segunda grande guerra. Professora primária, cursou escola normal e sempre exerceu atividades artísticas e na área de trabalhos manuais e de pintura.
Milton Ruiz (1919 -1998) – natural de São Paulo, Professor de Educação Física, jogador de Basketball convocado para a Olimpíada de 1948, técnico de diversas equipes do país.
Filhos: Milton Artur Ruiz e Nilton Domingos Ruiz (falecido em 2021).
Milton Artur Ruiz
Coordenador da Unidade de TMO Hospital D. Infante da Associação Portuguesa de Beneficência de São José do Rio Preto – SP.
Professor Livra Docente de Hematologia – FAMERP – São José do Rio Preto. SP.
Ex- Professor de Hematologia FM USP SP.