Identificada molécula associada a reprodução e sobrevivência do parasita da esquistossomose

Estudo pode ajudar na pesquisa de alvos terapêuticos para novos fármacos contra a doença, para a qual existe apenas um medicamento com eficácia limitada

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Pesquisa realizada no Instituto de Química (IQ) da USP e no Instituto Butantan revela que os RNAs longos não codificadores de proteínas (lncRNAs) são moléculas essenciais para a viabilidade, sobrevivência e reprodução do parasita Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose. Por isso, o estudo sugere que os lncRNAs poderão servir como alvos terapêuticos para a produção de medicamentos contra a doença. Atualmente, a única droga existente para tratamento da enfermidade apresenta eficácia limitada. As conclusões do trabalho foram apresentadas em artigo publicado na revista científica PLOS Pathogens.

“Existem cerca de 200 milhões de pessoas infectadas pela esquistossomose em todo o mundo, com mais de 200 mil mortes anuais”, relata o pesquisador Murilo Sena Amaral, do Instituto Butantan, que comandou a pesquisa. “Há um único tratamento disponível, o medicamento Praziquantel, para o qual já há relatos de resistência dos parasitas, além de ser ineficaz contra as formas imaturas dos vermes e não combater a reinfecção. Portanto, o desenvolvimento de novas drogas é de extrema importância.”

O pesquisador explica que os RNAs longos não codificadores de proteínas (lncRNAs) possuem baixo ou nenhum potencial de codificação de proteína e atuam diretamente como RNAs, transportando informações genéticas. “Os lncRNAs têm sido associados à regulação de diferentes processos biológicos em humanos e em muitas outras espécies, incluindo a regulação de expressão de genes codificadores de proteínas, a manutenção de células-tronco e a resistência a drogas”, afirma. “Como possuem um perfil de expressão tecido-específico e desempenham funções multifacetadas, eles vêm sendo propostos como novos alvos terapêuticos em diversas doenças.”

“Durante a pesquisa, reanalisamos dados públicos de sequenciamento de RNA de vermes adultos machos e fêmeas pareados (casais) e não pareados (que não formam um casal) e de suas gônadas, que são órgãos que produzem células sexuais, para identificar lncRNAs que estivessem presentes nos vermes pareados e ausentes nos não pareados”, descreve Amaral. “Anteriormente, esses dados públicos tinham sido analisados apenas para encontrar alterações dos mRNAs codificadores de proteínas durante o pareamento.”

Segundo o pesquisador, as análises identificaram lncRNAs que estavam em maior quantidade nos vermes adultos pareados do que naqueles não pareados. “Em seguida, silenciamos três deles para diminuir sua expressão nos vermes adultos pareados”, aponta. “Verificamos que a redução causou o despareamento e a redução da viabilidade e fertilidade dos parasitas, que passaram a produzir uma quantidade menor de ovos viáveis.”

“Quando esta redução da quantidade dos lncRNAs foi feita nos parasitas que estavam infectando camundongos, houve uma mortalidade de 30% dos vermes em comparação com animais em que os vermes tinham uma quantidade normal de lncRNAs”, aponta Amaral. “Observamos que esses lncRNAs estão localizados nos tecidos reprodutivos dos vermes, indicando que são importantes para o equilíbrio e a reprodução adequada desses parasitas.”

O pesquisador ressalta que futuras terapias a serem desenvolvidas com os lncRNAs representarão boas alternativas para o combate aos vermes e o controle da esquistossomose. “Elas são moléculas normalmente menos conservadas que os genes codificadores de proteínas”, observa. “Por isso, as terapias têm o potencial de causar menores efeitos adversos nos humanos, que não possuem lncRNAs semelhantes, tornando-se mais atrativos como alvos contra o parasita.”

“A transmissão da esquistossomose ocorre pelo contato dos seres humanos com as formas infectantes do verme, larvas chamadas de cercárias, que são liberadas em águas contaminadas pelo hospedeiro intermediário, um caramujo do gênero Biomphalaria”, relata Amaral. “Quando penetram na pele humana, os parasitas se deslocam para o sistema circulatório, passando pelo pulmão, pelo coração e pelo sistema hepático, concluindo o amadurecimento quando chegam ao fígado.”

A pesquisa foi chefiada pelos pesquisadores Murilo Sena Amaral e Sergio Verjovski-Almeida, do Instituto Butantan. Verjovski-Almeida também é professor aposentado e colaborador sênior do Departamento de Bioquímica do IQ. No Butantan, participaram do estudo os pesquisadores Gilbert Silveira e Daisy Santos (doutorandos do IQ), Helena Coelho, Adriana Pereira, Patrícia Miyasato, Lucas Maciel, Giovanna Olberg, Ana Tahira, Eliana Nakano e Maria Leonor Oliveira.

Matéria – Jornal USP – Texto: Júlio Bernardes

Fonte: NEWSLAB

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