Alzheimer e diabetes: conheça a relação entre as duas doenças

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Cerca de 463 milhões de pessoas com idade entre 20 e 79 anos —o que corresponde a 9,3% da população adulta mundial— têm diabetes, de acordo com a Federação Internacional do Diabetes (IDF). Em 2030, a estimativa é de que 578 milhões sofrerão com a doença, e, em 2045, 700 milhões.

Caracterizada pela produção insuficiente ou má absorção de insulina, hormônio que controla a quantidade de glicose (açúcar) no sangue e garante energia para o organismo, essa patologia crônica cada vez mais tem sido considerada um fator de risco para o desenvolvimento de diversas comorbidades, muitas graves.

Na lista das mais comuns, quando não é feito o correto controle, estão hipertensão arterial e problemas cardíacos (como infarto e AVC), renais (nefropatia) e oculares (retinopatia). Nos últimos anos, no entanto, outra condição tem sido relacionada à enfermidade e virou motivo de estudos mundo afora: o Alzheimer.

De acordo com Hermelinda Pedrosa, membro da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e ex-presidente do Departamento de Diabetes da entidade, pesquisas apontam que pacientes com diabetes tipo 2 têm 65% mais chance de ter este tipo de demência do que os demais indivíduos.

“Por causa disso, alguns autores têm chamado o Alzheimer de diabetes tipo 3 e o relacionado com o estado de resistência à insulina cerebral, mas trata-se de uma nomenclatura informal e controversa. Não sabemos se ela será consolidada, até porque, antes disso, precisamos entender melhor as duas doenças e também a associação entre elas”, acrescenta a especialista.

Para o endocrinologista Fabio Ferreira de Moura, membro do Departamento de Diabetes no Idoso e Imunização do Diabetes da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes), a adoção do termo não deve acontecer, especialmente porque, há dois anos, pesquisadores escandinavos, após a realização de um estudo com 15 mil pacientes, propuseram uma nova classificação para a patologia, dividida em diabetes autoimune grave, diabetes insulino-deficiente grave, diabetes insulino-resistente grave, diabetes leve relacionado à obesidade e diabetes leve relacionado à idade, e não mais em tipo 1 e tipo 2.

“Isso ainda não foi referendado, mas tem se discutido bastante e é provável que seja assim, portanto não deveremos ter nenhuma nomenclatura relacionando diabetes com Alzheimer. A associação deverá ficar apenas no campo das complicações mesmo”, aponta o médico.

Relação entre diabetes e Alzheimer:

o que já se sabe Mas, afinal, por que diabéticos têm mais chance de desenvolver a doença de Alzheimer? Pedrosa aponta que mais estudos são necessários, porém, o que se sabe até agora é que quem tem essa demência apresenta maior depósito de placas amiloide no cérebro —formadas pela proteína beta-amiloide, elas atacam as conexões entre os neurônios, resultando na perda de memória—, e o que parece favorecer essa condição é justamente a resistência à insulina (neste caso, cerebral), principal característica do diabetes.

“Doenças metabólicas têm por trás um processo inflamatório, que agride, principalmente, a circulação e promove uma aceleração dos processos disfuncionais. E, como os vasos irrigam vários órgãos, isso pode ocorrer no corpo todo, inclusive no cérebro, daí a associação entre as duas patologias”, explica a membro da SBEM.

Mais uma condição presente no diabetes —quando o controle não é feito de forma adequada— que, ao que tudo indica, também contribui para o aumento das placas de amiloide é a hiperglicemia (elevação dos níveis de açúcar no sangue).

“Há uma plausibilidade biológica em relação a isso. Ainda faltam comprovações, mas são fortes os indícios de que certas particularidades do diabetes realmente aumentam a propensão para o Alzheimer”, avalia Moura.

Evidências experimentais também têm relacionado o diabetes com a produção endógena de frutose, e um estudo recente, realizado pela Universidade do Colorado, dos Estados Unidos, e publicado no jornal científico Frontiers in Aging Neuroscience, propõe que a doença de Alzheimer pode ser causada justamente pela superativação desse açúcar no cérebro.

Muitas dúvidas, poucas respostas

Apesar das pessoas com diabetes tipo 2 terem um risco aumentado para Alzheimer, é preciso ficar claro que a patologia não se manifestará em todas, até porque esse tipo de demência não tem como única causa a resistência à insulina. Na verdade, acredita-se que seja uma combinação de fatores genéticos, ambientes e sociais.

“Existem muitos pontos que precisam ser esclarecidos e entendidos, inclusive, o de que mesmo indivíduos sem diabetes podem ter resistência à insulina no cérebro”, diz Pedrosa.

Outra questão que aguarda respostas, aponta a especialista, é se a utilização de remédios para tratamento do diabetes em pessoas com Alzheimer, ao menos na fase inicial, seria eficaz.

“Alguns começam a apresentar boas perspectivas, como os análogos dos receptores de GLP1 (glucagon like peptide) GLP1 AR e Pioglitazona, da classe TZD (tiazodelinediona), mas, volto a repetir, ainda temos muito a aprender.”

Independentemente das dúvidas, há uma certeza: a de que evitar o diabetes ou, se uma vez instalado, mantê-lo sob controle é importante para a saúde como um todo, até mesmo a cerebral.

Diante disso, a recomendação dos médicos é ter uma dieta equilibrada, rica em alimentos naturais e pobre em industrializados e açúcares; praticar exercícios físico de intensidade moderada regularmente (no mínimo, 150 minutos por semana); tomar os medicamentos necessários e ir às consultas médicas; parar de fumar e manter um peso saudável.

Além disso, é fundamental gerenciar o estresse, cuidar da saúde mental, ter boas noites de sono e, para combater os declínios cognitivos, estimular o cérebro com atividades como leitura, escrita, jogos, aprendizado de algo novo, palavras-cruzadas e resolução de problemas.

Fonte: VIVA BEM

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