Anosmia é mais prevalente em casos leves de Covid-19

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Um estudo recente, publicado no Journal of Internal Medicine, avaliou a prevalência da anosmia em casos leves a críticos de Covid-19. O objetivo era entender tanto a incidência, quanto as características dos diferentes tipos de perda de olfato, além do tempo de recuperação dos pacientes.

Mesmo que sintomas comuns de viroses estivessem nos protocolos como manifestações clínicas da doença pelo novo coronavírus (febre, tosse, dor no corpo, etc.) desde o início, muitos pacientes apresentavam perda de olfato sem uma clínica considerada típica. Sendo assim, em março, três meses depois da descoberta da doença, foi emitido um alerta sobre os casos de asnomia, geralmente junto de ageusia, relacionados à doença causadora da pandemia.

Anosmia e Covid-19

Foram analisados 2.581 pacientes com Covid-19 confirmada por RT-PCR em 18 hospitais da França, Bélgica e Itália. A definição de pacientes leves (85% dos pacientes inclusos), moderados (4,3%), e graves a críticos (11%) foi baseada no COVID-19 Disease Severity Scoring da Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo:

  1. Casos leves: sem evidência de pneumonia viral ou hipóxia;
  2. Casos moderados: sinais clínicos de pneumonia (febre, tosse, dispneia, respiração rápida), mas nenhum sinal de pneumonia grave (incluindo SpO2 ≥ 90% em ar ambiente);
  3. Casos graves: sinais clínicos de pneumonia mais um dos seguintes: frequência respiratória >30 respirações/min; dificuldade respiratória grave; ou SpO2 <90% em ar ambiente;
  4. Casos críticos: síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), sepse ou choque séptico.

Dados epidemiológicos (sexo, idade, etnia) e clínicos (comorbidades e sintomas) foram coletados por meio de questionário on-line padronizado, mesmo para os casos que não necessitaram de hospitalização. Os participantes foram acompanhados por até 2 meses após a infecção.

Resultados

  • Participaram 1.624 mulheres (62,9%). A proporção de mulheres foi maior no grupo de pacientes leves em comparação com os outros grupos (P = 0,001);
  • As etnias eram: caucasiana (83,6%), sul-americana (11,6%), asiática (1,2%), norte-africana (1,2%), negra africana (0,7%) e mestiça/outra (1,5%).;
  • 1.916 pacientes relataram disfunção no olfato (74,2%);
  • A prevalência de anosmia autorreferida foi de 85,9% em pacientes leves, 4,5% em casos moderados e 6,9% nos casos graves a críticos, respectivamente (P = 0,001);
  • Entre os sintomas usuais, a disfunção no olfato foi mais prevalente na forma leve em comparação com as formas moderada a grave (P = 0,001);
  • Os pacientes graves e críticos com Covid-19 apresentaram com maior frequência tosse, dispneia e febre do que os demais (P <0,05);
  • Os participante com Covid-19 moderado a crítico eram mais velhos do que aqueles com a doença leve (P = 0,001).

Entre os pacientes com disfunção olfatória, 1.363 (71,1%) completaram as avaliações de acompanhamento:

  • 98% deles tinha forma de Covid-19 leve;
  • As comorbidades mais prevalentes entre esses pacientes foram hipertensão (8,4%), asma (6,5%) e distúrbios gastroesofágicos (5,0%);
  • 81,6% referiram perda total do olfato, enquanto 18,4% dos pacientes relataram perda parcial;
  • A disfunção olfatória se desenvolveu após os outros sintomas em 44,7% dos casos e desapareceu no mês seguinte em 54,3% dos pacientes (a duração média autorreferida foi de 21,6 ± 17,9 dias);
  • Disgeusia, definida como o dificuldade de identificar salgado, doce, amargo e azedo, foi relatada por 55,9%, enquanto 83,9% relataram disfunção na percepção do aroma;
  • Um total de 328 pacientes (24,5%) não recuperou subjetivamente o olfato 60 dias após o início da disfunção.

Conclusões

A prevalência de disfunções olfatórias foi significativamente maior em pacientes com Covid-19 leve em comparação com aqueles com as formas moderada a crítica. Cerca de 86% dos pacientes que tiveram a doença leve relataram anosmia, cacosmia, fantosmia e/ou disfunção de aroma.

Uma das limitações do estudo foi a a falta de exame clínico olfatório ou de imagem no início da doença para avaliar a fenda e o bulbo olfatórios. Apesar disso, o número grande de participantes reforça a perda de olfato como uma das características clínicas principais da forma leve de Covid-19.

É importante acompanhar esses pacientes, já que 15% dos participantes do estudo não tinham recuperado o olfato completamente após 60 dias e 4,7% após seis meses. Nesses casos, o encaminhamento para otorrinolaringologistas é importante, para realização de exames e tratamento, que pode ser feito com treinamento do olfato.

Fonte: PEBMED

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