Número de casos de demência no Brasil aumentará para seis milhões em 2050, diz projeção

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O número de pessoas que sofrem de demência no mundo todo ultrapassa os 50 milhões, e a cada ano quase 10 milhões de novos casos são registrados

Globalmente, os gastos com apoio e tratamento de demências estão se intensificando rapidamente de forma preocupante. No ano passado, os custos no mundo todo foram na casa de um trilhão de dólares, e as projeções apontam que esse valor dobrará até 2030.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, no país a cada ano 55 mil quadros novos são registrados, sendo que a maior parte são subsequentes do mal de Alzheimer.

No cenário atual, o país possui 1,4 milhão de brasileiros vivendo com algum tipo de demência— e esse número deve avançar, em 2050, para seis milhões,

Segundo dados do IBGE, o envelhecimento populacional também vem acelerando. Ano passado, o Brasil comportava 28 milhões de pessoas que passaram os 60 anos de idade. As projeções dizem que até 2060, o país deverá contabilizar até 73 milhões de pessoas nessa faixa.

“O subgrupo da população que mais crescerá até 2065 é o de pessoas acima de 60 anos, e, dentro deste grupo, o de pessoas com mais de 80 anos de idade. Grosso modo, 40% daqueles que atingem esta idade apresentam declínio cognitivo importante, e o risco aumenta progressivamente”— Alexandre Kalache, referência no Brasil para temas associados ao envelhecimento, o Presidente do Centro Internacional de Longevidade (ILC) do Brasil foi um dos convidados do Dementia Forum X de Estocolmo.

Kalache vê com apreensão a maneira com a qual o país tem atendido a esse cenário, ao qual batizou de ” revolução da longevidade”.

“O que mais importa é treinar a equipe de atenção primária à saúde, para que os problemas decorrentes do número crescente de casos de Alzheimer possam ser minorados. No entanto, o SUS parece estar sendo desmantelado. Centros de saúde estão mal financiados, muitos deles estão fechando, e as condições de trabalho são altamente inadequadas”— enfatizou o especialista.

Ele ressalta que antagônico a atitude de inúmeros outros países, inclusive da América Latina, o Brasil ainda não possui políticas nacionais para enfrentar especificamente a questão das demências.

“A Política Nacional de Saúde (PNS) para fazer face ao envelhecimento não só é insuficiente em relação ao desafio, como deficitária quanto à sua aplicação. Assim como na Constituição, a PNS atribui à família a responsabilidade de cuidar de pacientes com Alzheimer. No entanto, além da “insuficiência familiar” – com famílias mais fragmentadas, menor número de filhos e fatores como moradias precárias -, o que mais falta é uma política de apoio à família para que ela possa exercer este papel adequadamente”— Kalache também opera a função de embaixador global da organização HelpAge International.

O Alzheimer pode atingir qualquer pessoa não importando em qual classe da camada social este indíviduo se encontra, entretando fatores como baixa escolaridade aumentam o risco do surgimento de demências após atingir os 60 anos de idade. Isso a torna uma doença desigual.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, esse fênomeno é decorrente da ausência de estímulo a formação de redes neurais mais complexas, o ensino formal também tem um papel importantíssimo para uma reserva funcional maior que se degrada ao longo da vida. Indivíduos com um nível de escolaridade maior, são mais capazes de realizar atividades intelectuais mais complexas, o que proporciona uma quantia de estímulos cerebrais superior a pessoas com um nível de escolaridade menor.

Em outras palvras, aqueles que frequentam ensino superior apresentam uma menor chance de desenvolver precocemente mal de Alzheimer ou outras doenças de caráter neurodegenerativo do que indivíduos que passaram apenas pelo ciclo básico de educação.

Dessa maneira, promover uma expansão do nível de escolarização pode ser uma maneira eficaz para prevenção de quadros de demência.

Um cérebro constantemente ativo e estimulado pode, consequentemente, dimimuir o avanço desse tipo de doença ou até mesmo coibir por completo sua manifestação. Outros elementos que podem contribuir no combate a demência estão no controle e restrição de problemas como hipertensão, diabetes e depressão; o que faz hábitos saudáveis como prática de exercícios físicos e não fumar poderosos aliados.

“Não sabemos com nenhum grau de certeza como prevenir a demência. Mas muito pode ser feito para prevenir a segunda mais frequente forma de demência – a demência vascular, sobretudo através da prevenção e tratamento adequado da hipertensão arterial. Aqui vale a noção dos três terços. Um terço dos casos de hipertensão no Brasil não tem a doença diagnosticada, outro terço a tem diagnosticada, mas não é tratada. E do terço final, muitos iniciam o tratamento com pouca aderência ou falta de acesso aos medicamentos mais indicados”—afirma Alexandre Kalache.

“Sabemos que atividade física, nível educacional adequado, dieta saudável e estímulos cognitivos ao longo da vida podem ter um efeito positivo em relação à demência – se não para preveni-la, pelo menos para adiá-la. E se o conseguimos por oito ou dez anos, já estaremos no lucro”— Kalache.

A Associação Brasileira de Alzheimer, declara que não existe cura para a doença que com o passar dos anos se intensifica— entretanto o tratamento existe e deve ser realizado. Com as inovações tecnológicas no campo da medicina, os pacientes vêm adquirindo maior qualidade de vida e uma sobrevida melhor, mesmo estando em estágios mais avançados da enfermidade.

Além disso, existem evidências científicas atestam a influência de atividades cognitivas, físicas e estimulação social na manutenção das capacidades dos pacientes, favorecendo-as.

Quando o diagnóstico da doença é feito na etapa inicial, já se é possível através de intervenções desacelerar o seu desenvolvimento e controlar os sintomas, proporcionando uma melhor qualidade de vida ao paciente e sua família.

Resultado de uma dolorosa experiência pessoal com a sua mãe, Alice Sommerlath, que foi acometida por demência nos seus últimos anos de vida, a Rainha Silvia da Suécia criou—em 1996— a fundação Silviahemmet: Um centro de excelência dedicado a assistir e habilitar para pessoas que comprometidos no zelo de pacientes que sofrem de demência. Agora, em Estocolmo, a Rainha será a anfitriã do terceiro Dementia Forum X.

“Há modelos que podem ser adaptados ao nosso contexto – daí a importância dos estudos e pacotes de treinamento desenvolvidos pela fundação da Rainha Silvia. Mas vale lembrar que os países desenvolvidos primeiro enriqueceram para depois envelhecerem. Nós estamos envelhecendo muito mais rapidamente, em um contexto de muita pobreza e de imensas desigualdades sociais”—acrescenta Alexandre Kalache.

Na capital paulista, quem exerce esse papel de assistência aos pacientes de doenças neurodegenerativas é a Sociedade Beneficiente Alemã conhecida por ser a primeira organização do continente latino a obedecer as recomendações e filosofia estabelecidas pela fundação Silviahemmet.
                                                                                                                                    Fonte:G1

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