Mais de 700 milhões de pessoas em todo o mundo foram afetadas pelo vírus da COVID 19. A pandemia que nos afetou, atingiu a pacientes de ambos os sexos e de todas as idades. Muitos assintomáticos, outros foram internados e a doença ceifou a vida de amigos, parentes e a milhões de pessoas em todo o planeta. Interferiu no padrão de comportamento e modificou a sociedade para sempre. A ciência deu rápidas respostas em todo o período de penúria que enfrentamos nos últimos três anos.
O avanço cientifico foi atestado pela alta efetividade das vacinas e das medidas sanitárias empregadas. No entanto a chave para o controle da COVID 19 pela sua diversidade encontra-se na redução da sua transmissão. A redução da transmissão atualmente envolve o uso de máscaras e o distanciamento social, associado aos esforços dos laboratórios farmacêuticos no aprimoramento e desenvolvimento de novas vacinas e antivirais.
Para entender como uma pessoa pode ser contagiosa ou uma espalhadora do vírus um estudo foi realizado na Inglaterra e publicado on line neste mês na revista The Lancet. O estudo procurou saber quem espalha mais o vírus quando se adquire a COVID 19. O estudo rigoroso e controlado selecionou voluntários que não haviam sido vacinados e que comprovadamente não haviam tido a doença. Foram intencionalmente infectados. Participaram do estudo 10 mulheres e 24 homens com idade entre 18 a 30 anos. Os participantes foram confinados em quartos especiais, isolados e só tinham contato com os pesquisadores. Uma quantidade conhecida de vírus foi esguichada no nariz dos participantes. Dezoito desenvolveram a COVID 19 e ficaram pelo menos 14 dias confinados. Diariamente os pesquisadores mediam os níveis do vírus no nariz, na garganta dos participantes, no ar e nas superfícies das salas e dos quartos. Nem todos desenvolveram a doença. A carga viral encontrada variou. Dois destes pacientes que apresentaram grande quantidade de carga viral no nariz, eram inclusive assintomáticos. Considerados super espalhadores do vírus. A conclusão é que os mais graves não serão obrigatoriamente os que espalharão maior quantidade do vírus. Os resultados confirmam que a gravidade e o contágio da doença variam de forma ampla e imprevisível entre as pessoas o que torna difícil o seu controle. A fisiologia humana, e não o vírus, é o culpado pela inconsistência da COVID-19.
No entanto apesar dos resultados serem relevantes para o entendimento, a cepa do vírus utilizado no estudo, não foi a do vírus Omicron que hoje predomina. O estudo sugere a importância dos testes rápidos que devem ser empregados logo ao início dos sintomas.
Em oposição ao estudo, no entanto existem críticas de que não é ético transmitir à pessoas uma infecção que pode causar efeitos graves, apesar do benefício de que possa acelerar os testes de vacinas e de ser talvez a única forma de entender aspectos peculiares de uma doença, da sua gravidade e de como se comportam as pessoas antes de testarem positivo ou desenvolverem sintomas de uma moléstia.
Milton Artur Ruiz Coordenador da Unidade de TMO da Associação Portuguesa de Benficência de São José do Rio Preto, SP EX Professor de Hematologia FM USP , SP Professor Livre Docente de Hematologia FAMERP, SJRP, SP