PSICODRAMA NA PROMOÇÃO E PREVENÇÃO DE SAÚDE EM PESSOAS COM TRANSTORNOS MENTAIS

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FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ DE GOIÁS (FESGO) CURSO DE PSICOLOGIA

IGOR ARAÚJO COSTA

NAURIA RODRIGUES DE BRITO

PSICODRAMA NA PROMOÇÃO E PREVENÇÃO DE SAÚDE PARA PESSOAS COM TRANSTORNOS MENTAIS

Artigo científico apresentado ao curso de Psicologia da Faculdade Estácio de Sá de Goiás como requisito parcial para a obtenção do grau de psicólogo (a).

Orientadora de campo: Prof.ª Dr.ª Elisa Alves da Silva Orientadora: Prof.ª Mª Mariana Costa Brasil Pimentel

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Deus em primeiro lugar por ter nos concedido saúde e sabedoria, para que pudéssemos concluir com êxito o curso de psicologia. Momento único em nossas vidas, que nos permitiu uma interação com diversas pessoas especiais, que contribuíram com nossa formação. Agradecemos nossa família pelo apoio e paciência estendidos a nós, e às nossas professoras Elisa Alves, que nos supervisionou com dedicação e humanidade, nos guiando no caminho que é um divisor de águas em nossas vidas pessoal e profissional; e à professora Mariana Pimentel, que com tanto carinho e compreensão nos auxiliou na construção deste artigo científico.

“E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei no lugar dos meus; E arrancarei meus olhos para colocá-los no lugar dos teus; Então ver-te-ei com os teus olhos E tu ver-me-ás com os meus.” Jacob Levy Moreno

Resumo

A população de pessoas com transtornos mentais graves desde o início da civilização tem sido tema de estigma social e discriminação. No presente artigo de revisão teórica, verifica-se que a Reforma Psiquiátrica e as novas modalidades de atendimento psicológico, foram um marco importante na busca pelo reconhecimento dos direitos das pessoas acometidas por transtornos mentais graves. Neste contexto, o Psicodrama vem com o propósito de promover saúde mental e prevenir um possível adoecimento, e para isso utiliza-se de técnicas e vivências, trabalhando no sentido de melhorar a qualidade de vida e minimizar os efeitos das crises psicóticas. Com isso, busca-se resgatar a espontaneidade e criatividade, possibilitando à pessoa acometida inserção social e a construção saudável de seu caminho.

Palavras Chaves: Transtornos mentais; Saúde mental; Reforma Psiquiátrica; Psicodrama.

Abstract

Since the beginning of times, people with severe mental disorders have been the subject of social stigma and discrimination. The Psychiatric Reform and the new psychological care modalities were an important landmark in the search for recognition of the rights of people affected by serious mental disorders. In this context, Psychodrama comes with the purpose of promoting mental health and preventing possible illnesses, using techniques and experiences, and working to improve the quality of life and minimize the effects of psychotic crisis. With this, it is sought to rescue the spontaneity and creativity, enabling the social insertion of the person affected, and a healthy construction in their way to getting better.

Keywords: Mental disorders; Mental health; Psychiatric Reform; Psychodrama.

  1. INTRODUÇÃO

A reforma psiquiátrica foi um passo de grande relevância para a busca da cidadania das pessoas com transtornos mentais, ainda que complexa, com desafios e estando ainda em desenvolvimento. Por décadas, o atendimento às pessoas com transtornos mentais estava principalmente ligado aos hospitais, cujo tratamento oferecido resumia-se em internações longas, o que mantinha o doente afastado da família e dos círculos sociais (MURTA, et al., 2015).


Em 1970, o modelo hospitalocêntrico foi discutido, e a partir de longas lutas por dignidade no tratamento oferecido aos pacientes psiquiátricos, a Reforma Psiquiátrica começou a mudar esse contexto. Hoje, tem-se no Brasil Políticas Públicas que consolidam o campo de atuação da saúde mental (FONTE, 2012).


A forma como a saúde mental é promovida varia de acordo com a região e cultura, pois durante anos, a saúde mental constituiu um campo de exclusão. Entretanto, discussões sobre a piora dos pacientes, o sistema de asilo, o modelo voltado somente para o lado físico do ser humano, a não recolocação social, a violação dos direitos humanos e de cidadania fizeram surgir iniciativas políticas, científicas e sociais. Essas iniciativas trouxeram à luz novos modelos de estratégias voltados à reabilitação e à recuperação dos indivíduos com transtorno mental, propondo a valorização do cuidar e uma nova forma de pensar no processo saúde-doença (JORGE; BEZERRA, 2004).


Essas novas estratégias visavam uma ressignificação das práticas de saúde, buscando ressaltar a subjetividade da pessoa, a partir das técnicas de acolhimento, vínculo, autonomia entre outros, contidos neste novo sistema de saúde. Nesta perspectiva, diversos autores contribuíram para se pensar novas práticas, um deles foi Jacob Levy Moreno, que apontou em seus estudos que o homem é um ser de possibilidades, um ser social e relacional caracterizado por sua espontaneidade e capacidade de perceber o outro (GONZALEZ, 2012).


Para Moreno, “o homem sadio é o que tem capacidades para o encontro” (APLEWICZ, s.d. apud FONSECA FILHO, 1980, p. 7). Deste modo, é saudável o indivíduo capaz de experienciar o outro, pois a personalidade se forma a partir do desenvolvimento dos papéis, baseando-se que Psicodrama é uma teoria ancorada no entendimento de que saúde e doença ocorrem nas relações que estabelecemos.

Camossa e Lima (2011) referenciam que para Moreno, a terapia psicodramática seja ela em grupo ou até mesmo a bi-pessoal, visa proporcionar ao indivíduo um autoconhecimento e uma autonomia psicológica que permita assumir de maneira livre a sua existência. Neste contexto, muda-se o foco no modelo hospitalocêntrico de internação e transtornos mentais, e passa a perceber o indivíduo situado em um contexto de relações sócio afetivas.

Ainda segundo os autores acima citados, o propósito da psicoterapia não é a cura do transtorno mental, mas sim, voltar-se integralmente para a transformação do indivíduo, compreendido a partir de um contexto formado de relações, com o intuito de possibilitar que a pessoa assuma a sua existência, uma vez que o sujeito é compreendido a partir da dinâmica de relações interpessoais que estabelece no seu cotidiano.

Logo, esta investigação faz-se necessária, pois por meio de pesquisas, conhecimentos serão adquiridos nas áreas de prevenção e promoção de saúde mental de pessoas com transtornos mentais. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) o conceito de saúde ultrapassa a mera ausência de doença. Sendo a saúde mental determinada por diferentes fatores ambientais, socioeconômicos e biológicos (OMS, 2016).

Assim, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde, prevenção e promoção da saúde mental envolverão ações que permitam as pessoas adotarem estilos de vida mais saudáveis (OPAS/OMS, 2013) Pesquisas recentes mostram a importância de promoção e prevenção da saúde mental. No ano de 2013, foi postulado o Comprehensive Mental Health pela Assembleia Mundial da Saúde, um plano de compromisso em que todos os Estados-Membros da OMS colaboram com medidas específicas que melhoram a saúde mental e contribui para a realização de um grupo que envolva metas globais (OPAS/OMS, 2013).

Para tanto, os objetivos deste estudo foram: verificar, por meio do levantamento teórico, ações e intervenções psicodramáticas que possam prevenir e promover a saúde mental dos indivíduos com transtornos mentais; e levantar planos de ações, de modos e estilos de vida para obter uma existência mais saudável a pacientes, familiares e comunidade em geral.

  1. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. TRANSTORNOS MENTAIS

Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais da APA, 5.ª edição ou DSM-5(2014), os transtornos mentais se classificam como doença com manifestação psicológica que se apresentam na forma de comprometimento funcional e resulta de algum distúrbio biológico, social, psicológico, genético, químico ou físico (SANTOS; SIQUEIRA, 2010). Os transtornos mentais estão associados ao sofrimento ou incapacitação que ocorre em um indivíduo gerando riscos significativos à vida, ocasionando aflição, deficiência e relevante perda de sua liberdade, sendo caracterizado como um quadro psicológico clinicamente importante (CAMOSSA; LIMA, 2011). Dentre os transtornos mentais graves, pode ser citada a psicose, que consta no DSM- 5(2014), com os seguintes episódios característicos: presença de alucinações e delírios; sintomas negativos, fala desorganizada, falta de empatia, dificuldade de demonstrar afetos e sentimentos, isolamentos e excitação, entre outros (CAMOSSA; LIMA, 2011).

O número de pessoas com transtornos mentais aumenta a cada ano no mundo, principalmente em países em desenvolvimento, no qual problemas como pobreza, falta de moradia adequada, baixa escolaridade, violência urbana, dentre outros, estão presentes no cotidiano das pessoas, levando a incapacidade os acometidos. Segundo a OMS, uma em cada 10 pessoas no mundo sofre de algum transtorno mental (GONÇALVES; SENA, 2001). Durante muito tempo, indivíduos com transtornos mentais recebiam tratamento para a “loucura” de forma desumana.

Transtornos mentais sempre existiram, porém, a forma e o local de tratamento não eram os mesmos: desde igrejas, casas ou nos hospitais psiquiátricos. Pessoas com transtornos mentais eram excluídas da sociedade, abandonadas e consideradas inaptas para o convívio. Tratar o indivíduo com transtorno mental tornou-se símbolo de exclusão e recolhimento dentro dos asilos, mais conhecidos como manicômios.

Por este motivo é necessário discutir formas de acolhimento e tratamento de pessoas com transtornos mentais graves, dando possibilidade de uma existência digna e saudável (GONÇALVES; SENA, 2001).

2.2. REFORMA PSIQUIÁTRICA

O primeiro marco para a revolução da psiquiatria aconteceu com os estudos do médico francês Philippe Pinel, no século XVIII, ocorrendo assim a reforma humanitária modificando o manejo com os pacientes com transtornos mentais. Já no século XX, surge a Reforma Psiquiátrica Brasileira, que se constitui como um importante movimento histórico e social, tendo como principal foco a desinstitucionalização dos manicômios (GONÇALVES; SENA, 2001).

A Reforma Psiquiátrica veio com objetivo não apenas de transformar o modo de tratamento das pessoas com transtornos mentais, nos trouxe também a possibilidade do resgate da cidadania do indivíduo e o respeito a sua subjetividade, tendo como base a autonomia e a reintegração da pessoa à família e à sociedade (GONÇALVES; SENA, 2001).

Assim, a Lei 10.216 de autoria de Paulo Delgado, que alterou a política pública para a saúde mental, foi sancionada em 6 de abril de 2001 (BRASIL, 2001). Segundo Andreoli (2007 apud BARROSO; SILVA, 2011), por meio dessa lei, substituiu-se o modelo de internação hospitalar, pelo modelo de atendimento terapêutico psiquiátrico fora dos hospitais, baseado em serviços de saúde mental multiprofissionais.

Embora tenha sido de grande importância para consolidação do atendimento psiquiátrico comunitário, a promulgação da Lei 10.216 não foi um ato isolado, sendo o resultado de um árduo processo, iniciado na década de 1950 nos países europeus e no final da década de 1970 no Brasil. Assim, a desinstitucionalização não se resume apenas na substituição dos manicômios por tratamentos terapêuticos auxiliares como a criação de serviços substitutivos, envolve também um caráter jurídico, político e sociocultural. É preciso que os indivíduos tenham a oportunidade de estarem envolvidos nos diversos campos da sociedade (BARROSO; SILVA, 2011).

2.3. SAÚDE MENTAL – PROMOÇÃO E PREVENÇÃO DA SAÚDE

Durante a realização da primeira conferência internacional de promoção de saúde mental, foi promulgada a Carta de Ottawa, em 1986, que trouxe intenções específicas que contribuiriam para concretizar o objetivo de possibilitar saúde para todos em 2000 e nos anos que seguiram. Com base nos movimentos que se sucederam no mundo, a Conferência veio como resposta para a gradativa expectativa de uma nova saúde pública. O processo de capacitação da sociedade na melhoria da qualidade de vida e saúde, tendo como foco maior participação neste processo é definido como promoção de saúde (CARTA DE OTTAWA, 1986).

Assim, a ideia de promoção e prevenção de saúde envolve o fortalecimento da capacidade individual e coletiva em lidar com diversos fatores que comprometem a saúde. Promoção de saúde tem um sentido amplo, que vai muito além de conhecimentos e aplicação técnica de normas e conceitos, envolve um processo que possibilita ao indivíduo aumentar seucontrole sobre determinantes de saúde. Já prevenção de saúde exige uma ação antecipada, com a possibilidade de redução de riscos e agravos. Essa concepção faz referência ao fortalecimento da saúde por meio da construção da subjetividade e escolha própria, utilizando os conceitos e conhecimentos de forma clara e precisa, atentando para o indivíduo como ser singular (MURTA et al, 2015).

Promover bem-estar e antecipar um possível adoecimento psicológico é de fato relevante no atual cenário em que estamos inseridos. Ao considerarmos a saúde mental de adultos brasileiros, sabe-se que a ocorrência de transtornos mentais tem aumentando, com incidência maior de transtornos de ansiedade, de humor e de transtornos associados ao uso de drogas ilícitas. Condições sociais e econômicas precárias e problemas familiares são os possíveis fatores do aumento das taxas de transtornos mentais na população brasileira, isso afeta, no entanto, todas as faixas etárias (SANTOS; SIQUEIRA, 2010).

2.4. PSICODRAMA

Por meio da metodologia fenomenológica e existencialista vários modelos terapêuticos se desenvolveram, dentre eles se destaca a obra de Jacob Levy Moreno, que proporciona ao indivíduo uma autonomia psicológica e um autoconhecimento que dá ao sujeito a possibilidade de assumir a sua existência livremente. Neste cenário, o foco passa a ser o indivíduo centrado em um âmbito de relações sócio afetivas, assim esse modelo substitui o propósito originário que era de curar as perturbações mentais, com o modelo médico-higienista (CAMOSSA; LIMA. 2011).


Jacob Levy Moreno nasceu em 06 de maio de 1889, em Bucareste (Romênia), aos cinco anos mudou-se para Viena (Áustria). Em meados do ano 1907, já adolescente, frequentava uma seita judaica (hassidismo) e criou o Seinismo (ciência do ser) e principiou com um grupo de amigos o que chamou de religião do encontro. Esse grupo era visto como um ato de rebeldia diante das tradições já existentes, na comunidade judaica (RAMALHO, 2010).


Ainda nessa época, Moreno iniciou o jogo de improviso com as crianças, onde propôs e improvisou brincadeiras, distribuindo papéis, com o objetivo de facilitar-lhes a espontaneidade. Através dessa experiência obtida, Moreno ganhou estímulos para desenvolver, em 1911, no Kindergarden, um teatro de crianças local onde realizou-se a primeira sessão de Teatro Espontâneo. No entanto, não tinha por objetivo construir uma teoria, mas já trabalhava com os enfoques e técnicas que seriam fundamentais para desenvolver o que conhecemos hoje como psicodrama (RAMALHO, 2010).

Em 1912, ele entrou para a faculdade de medicina, formando-se em 1917. Durante o período de universidade, desenvolveu um trabalho de relevante importância com as prostitutas, formando um grupo e que mais tarde se tornou um sindicato. Em 1916, trabalhou em campo de refugiados e conclui em 1920, o seu livro intitulado “As Palavras do Pai”. Em 1921, Moreno publica o seu 2º. livro, “O Teatro da Espontaneidade”, semente do psicodrama. Moreno, desenvolveu experiências em grupo usando técnicas e trabalhos no teatro da espontaneidade que ele mesmo criou. Foi a partir destas experiências que criou o teatro terapêutico e, por consequência deu origem ao o psicodrama (RAMALHO, 2010).

O psicodrama é uma abordagem que se situa entre a arte e a ciência, explorando e conduzindo as técnicas de ambas. Foi definido por Moreno como o método que estuda as verdades existenciais por meio da ação, pois em grego, etimologicamente, a palavra “drama” significa “ação”. Surgindo como uma reação aos métodos individualistas e racionalistas existentes na época, focou o estudo do homem em relação, como um ser bio-psicossocial e transcendente (RAMALHO, 2010).

Segundo Moreno (1992), é justamente nas interações sociais que o homem, como ser essencialmente social, estabelece relações que podem ser saudáveis ou patológicas. O psicodrama tem como foco a proposta de reparar e rematrizar as experiências negativas vividas por um sujeito ou por um grupo, reabrindo possibilidades de atuação de forma que flua a espontaneidade, criando novas respostas e evitando a cristalização de determinados comportamentos (RUIZ-MORENO, 2005).

O psicodrama vem como forma de trabalhar conflitos e estados patológicos mais graves, como os transtornos mentais. O homem, compreendido por Moreno, é caracterizado por perceber o outro e ser espontâneo, um ser capaz de fazer trocas de papéis, assumindo e movimentando-se no seu átomo social, que é o núcleo de relações que se desenvolvem ao redor do ser, não se cristalizando e reduzindo-se a um número pequeno de papéis (MORENO 1992; MARRA 2006).

Os psicodramatistas mantêm a proposta de trabalhos em grupos, por meio de reuniões abertas ao público. Há muitos profissionais trabalhando com o psicodrama pedagógico e organizacional, em clínicas e ambulatórios em todo o Brasil. Nos hospitais e em outros centros da rede pública de saúde mental, o psicodrama vem sendo utilizado com constância em grupos de psicóticos. Importante ressaltar neste momento a grande quantidade e diversidade de produção escrita (ALMEIDA, et al, 1999).

3. MÉTODO

Esta pesquisa foi desenvolvida por meio de um levantamento bibliográfico, a partir de trabalhos publicados em livros especializados e artigos científicos. A revisão teórica propôs um resumo de evidências que relacionam práticas de intervenção, métodos específicos que unem informações e ampliam o entendimento do tema em questão. Este tipo de estudo tem grande utilidade para a integração de informações de um conjunto de publicações realizadas sobre a temática. Tem por objetivo o aprimoramento de ideias, construindo hipóteses e possibilitando familiaridade com o problema. Assim, a principal vantagem da pesquisa bibliográfica é permitir ao investigador uma maior cobertura dos fenômenos verificados (GIL, 2002).

Como critérios de inclusão foram utilizados artigos que tivessem como palavras-chave: saúde mental, promoção e prevenção de saúde, psicodrama e reforma psiquiátrica. O período de publicação não foi importante para a inclusão dos artigos, visto que foram consultadas publicações de anos variados. Foram excluídos estudos referentes a outras abordagens psicológicas e que não estivessem disponibilizados de forma completa. Além dos livros especializados da área, as bases de dados pesquisadas foram: SCIELO, PEPSIC, BVS-PSI e Google Acadêmico.

Após o levantamento foram selecionados 28 artigos, com assuntos que abordavam os objetivos desse trabalho. Em seguida, foram elaboradas as seguintes categorias de análise a serem tratadas nos resultados e discussões: ações e intervenções psicodramáticas na prevenção e promoção à saúde mental de pessoas com transtornos mentais; e planos e ações que contribuem na existência mais saudável a pacientes, familiares e comunidade em geral.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este trabalho foi realizado através de revisão literária, foram selecionados 28 artigos e ou livros que preenchiam os critérios propostos, publicados entre os anos de 1986 até 2016.

4.1. AÇÕES E INTERVENÇÕES PSICODRAMÁTICAS NA PREVENÇÃO E PROMOÇÃO À SAÚDE MENTAL DE PESSOAS COM TRANSTORNOS MENTAIS

O psicodrama tem como proposta ser um facilitador no sentido de auxiliar também o paciente com transtornos mentais a se perceber e se aceitar, no ambiente dramático no qual vivencia as fantasias delirantes (BARBOSA; TEIXEIRA, 2013). Moreno teve grande empenho e trabalhou com pacientes psicóticos, em uma época em que os processos terapêuticos eram escassos para este tipo específico de quadro clínico. Usando o psicodrama, ajudava os pacientes que chegavam até ele, aliviando os delírios por meio da vivência simbólica no cenário terapêutico, o que de acordo com ele, paralisava o efeito delirante (SOUZA; MOURA, 2011).


Souza e Moura (2011) pontuam que Moreno considerava que quaisquer transtornos mentais poderiam ser tratados por meio do psicodrama. Neste sentido, as técnicas psicodramáticas permitiam a concretização das experiências subjetivas no espaço dramático, ou seja, permitia aflorar os sintomas psicóticos a serem trabalhados. De acordo com o que foi dito acima, o paciente projeta a atividade psicótica do mundo interior e subjetivo para o mundo exterior com a ajuda de egos auxiliares, permitindo assim, uma atuação sobre a própria psicose.
Para o paciente psicótico, é muito difícil suportar a realidade, devido a esse fato, na maior parte do tempo encontra-se no mundo da fantasia. Moreno criou um método chamado Mundo Auxiliar, que tinha por objetivo criar um mundo “real” baseando-se na produção psicótica do paciente, fazendo com que o mundo de fantasia se torne um mundo real para si. Neste contexto imaginário, o paciente encontra toda a atividade delirante e alucinatória, as emoções e a partir disso os papéis são vividos. Esta realidade é mais verdadeira e palpável do que aquela em que vivenciou no início da psicose. O qual é essencial para minimizar o sentimento de solidão, o que contribui para aumentar a autoestima (BARBOSA; TEIXEIRA, 2013).


O psicodrama, ao trabalhar com psicóticos, tem por objetivo verificar como o paciente age e pensa sobre o mundo. Trabalha-se no sentido de atuar terapeuticamente os delírios, contextualizando-os à vida emocional do paciente. Neste contexto, a pessoa deixa de tentar em vão, ou seja, de encaixar a atividade delirante nos moldes da realidade externa, porque ela passa a ter uma existência concreta no ambiente dramático. Nesta realidade, o paciente sente-se confortável e permite que as atividades psicodramáticas sejam produtivas, possibilitando que os egos auxiliares o guiem a restringir-se a si mesmo, o que por sua vez, evita um maior desgaste trazido pela psicose (SOUZA; MOURA, 2011).


De acordo com Moreno, o tratamento do paciente psicótico por meio do psicodrama, pode evitar um aumento do desenvolvimento delirante, e por este motivo, deve ser iniciado precocemente. A construção do mundo auxiliar envolve em conhecer e compreender o mundo subjetivo do paciente, criando juntamente com ele papéis e personagens de acordo com a necessidade. A medida que o paciente vive esse mundo auxiliar, é possível conhecer melhor o mundo interior e trabalhar a melhora da espontaneidade.

Neste ambiente que o paciente se sente acolhido e seguro é possível desenvolver um trabalho psicodramático, permitindo ao paciente representar os personagens alucinatórios, dramatizando os delírios, fazendo uma aproximação dos papéis de personagens delirantes com os indivíduos reais, à medida que melhora e recupera a capacidade de espontaneidade, estabelecendo relações mais próximas no cotidiano (MONTEIRO, SILVA FILHO, et al;1998).

Segundo Monteiro e Silva Filho (1998), Moreno descreveu uma outra técnica chamada realização psicodramática, que consistia em executar uma vivência delirante em uma sessão de psicodrama. Por meio desta técnica, procurava-se de forma progressiva destituir o mundo delirante, evidenciando ao paciente que ele só existiu no ambiente dramático.

Em 1939, Moreno publicou um artigo no qual trazia como assunto uma técnica chamada choque psicodramático, que tem como objetivo reconduzir o paciente que saiu de um surto psicótico a uma segunda psicose, fazendo isso em um ambiente protegido, recriando a estrutura da psicose inicial, fazendo com que o paciente revivesse a crise, possibilitando assim uma compreensão profunda dos momentos de crise ao paciente, e mostrando também o sentido dessa vivência na história de vida.

De acordo com Souza e Moura (2011), Moreno considerava que por meio da técnica realização psicodramática, o paciente psicótico poderia estabelecer uma ponte entre realidade e delírio, o que seria de extrema importância para controlar possíveis e futuras crises psicóticas.

Esta técnica tinha efeito catártico no paciente, explorando e reforçando a espontaneidade, o que criaria uma maior eficiência para evitar entrar na psicose. Para Moreno, é importante que o paciente reviva a crise sem a sensação de isolamento, ainda mais que o vínculo que se estabelece entre os terapeutas e o paciente, produza a sensação de vivência acompanhada.

A desordem que se estabelece entre fantasia e realidade é uma das características da psicose, e uma das consequências, é a inibição de papéis que eram exercidos anteriormente ao início da crise psicótica. Uma das técnicas utilizadas no psicodrama é o átomo social, e ela permite a pessoa ser o centro e, existe em volta dela, relações que possuem significados de extrema importância. Cada relação tem um quantum de proximidade ou não com o outro.

Quando passa a existir um conflito, a relação e o sujeito ficam estagnados e cristalizados. Neste sentido o objetivo do psicodrama, em relação aos pacientes psicóticos, é transformar uma alucinação em um objeto real, que será compartilhado com os membros do grupo, para poder ser melhor trabalhado (SOUZA; MOURA, 2011).

Para os pacientes que estão nos grupos de atendimento psicodramático, questões de relações e interações sociais são temas que surgem com maior frequência, além de temas como o estigma social que sofrem e de como lidar com a doença (SOUZA; MOURA, 2011).

4.2. PLANOS E AÇÕES QUE CONTRIBUEM NA EXISTÊNCIA MAIS SAUDÁVEL A PACIENTES, FAMILIARES E COMUNIDADE EM GERAL

Quando se refere às contribuições de uma existência mais saudável do ser humano, é exatamente nessas práxis que Moreno construiu o psicodrama, buscando métodos e sentidos que permitissem ao indivíduo construir a si mesmo e o mundo, de maneira livre e autônoma. Nesse sentido, no exercício da cidadania, verifica-se que surge um processo de transformação, e que as práticas sociais contribuem para melhora da autoestima e o resgate da espontaneidade e criatividade.

O homem é um ser histórico e que está inserido em um contexto social que estabelece laços, sendo assim, para que haja uma construção de uma vivência mais saudável, o psicodrama auxilia também para além da esfera individual e caminha em direção do social, do grupo (PEREIRA; DIOGO, 2009). Logo, para o Psicodrama é importante verificar as diversas possibilidades de papéis que a pessoa desempenha ao longo da vida, pois quando o indivíduo tem mais flexibilidade de manifestação da espontaneidade-criatividade é possível que se tenha maior percepção do contra papel, o que evidencia a capacidade de inverter papéis.

O psicodramatista precisa estar atento em perceber as dificuldades de inversão de papéis que a pessoa apresenta, possibilitando a verificação do comparecimento de bloqueios emocionais relacionados a vínculos. Dentre as diversas atuações, o psicodrama opera também na medicina preventiva, que procura sensibilizar as pessoas quanto as causas, prevenções e tratamentos de transtornos de ordem psicológica, permitindo rever hábitos que possam melhorar a qualidade de vida do paciente (APLEWICZ, s.d.apud FONSECA FILHO, 1980, p. 7).

Nesse sentido, existe também o Sociodrama, criado por Moreno, que surge como forma de pesquisar e tratar os grupos e as relações intergrupais, levando em conta os conflitos e aflições. Tem como método ser interventivo, buscando compreender os processos grupais e intervir em uma situação que possa surgir como problema, por meio da comunicação ou atuação das pessoas. Moreno ressaltou que o verdadeiro sujeito do Sociodrama é o grupo, pois há conflitos que envolvem a coletividade, e estes podem ser compreendidos e trabalhados por diferentes métodos, e o Sociodrama passa a existir como forma de explorar e trabalhar os diversos temas, buscando a mudança de atitude dos membros (NERY; COSTA; CONCEIÇÃO, 2006).


Assim sendo, o Sociodrama é um poderoso método de transformação social, pois as pessoas estão imersas em um mundo de diferentes culturas e formas de pensar. Todos vivem por meio de pertencimentos grupais, com a necessidade de sermos aceitos na comunidade, tendo então a importância do trabalho com grupos, principalmente os que envolvem o esclarecimento acerca das possibilidades e dificuldades das pessoas com transtornos mentais. Neste contexto, surgem as oficinas terapêuticas, que são essenciais, pois promovem encontros de atividades terapêuticas, com o objetivo de gerar o exercício da cidadania, por meio da arte e música. Leva-se em conta as habilidades e capacidades de cada paciente em específico, o que este consegue realizar, dando importância ao processo criativo. A oficina de canto, proporciona a pessoa que tem psicose bem-estar e alegria, ao mesmo tempo que desperta no indivíduo o gosto pela música, além, de minimizar as angústias comuns a pacientes com transtornos mentais (MARRA; FLEURY, 2010).


Existem também os grupos de assistência familiar, que tem por objetivo compreender a dinâmica de convívio dos familiares e a pessoa com transtorno mental, identificando as representações dos familiares em relação ao doente e a forma como eles entendem o fenômeno saúde e doença. A partir desses grupos, é possível criar novas abordagens terapêuticas tanto com a pessoa adoecida, quanto com os familiares, pois a família é um grupo que constitui um campo de relações, que compartilham experiências e significados (BORBA, et al, 2011).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste artigo, foi possível verificar a importância de promover saúde e disseminar meios de prevenção e cuidados aos portadores de sofrimento psicológico grave. Uma das maneiras para que isso ocorra é por meio do acolhimento psicodramático, que pode proporcionar a pessoa com transtorno e até mesmo aos seus familiares, recursos para lidar de forma harmoniosa com o transtorno. F

oi visto que a reforma psiquiátrica foi um grande avanço para melhorar a forma e o manejo de tratamento das pessoas adoecidas mentalmente. No início, pessoas com transtornos mentais eram consideradas fora do padrão de normalidade, por este motivo, eram retiradas do convívio em sociedade e realocadas para asilos e hospitais psiquiátricos. O tratamento oferecido era desumano e cruel, trazia mais complicações e não promovia saúde e bem-estar a pessoa adoecida. Desse modo, pode-se observar que a Reforma Psiquiátrica trouxe não apenas uma mudança na forma de tratar a pessoa com transtornos mentais, mas possibilitou o resgate da cidadania e subjetividade do indivíduo.

A lei 10.216, de autoria de Paulo Delgado, ofertou a substituição do modelo hospitalocêntrico para que novas modalidades de atendimentos terapêuticos multiprofissionais fossem implantadas, a exemplo disso, pode-se citar os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Promover saúde e prevenir um possível adoecimento psicológico é o foco quando pensamos em promoção e prevenção de saúde, e é neste contexto que o psicodrama pretende atuar, possibilitando à pessoa com transtorno mental o exercício da autonomia. Isso significa que a busca de saúde mental, e a compreensão do psicodrama de promover saúde está no resgate da espontaneidade e da criatividade do indivíduo, preservando o direito de encontrar o próprio caminho, sendo necessário preservar o espaço de escolhas, visto que o psicodrama não propõe a cura da psicose, mas sim a confiança no outro e no mundo.

É por meio da psicoterapia, que o indivíduo poderá se construir e reconstruir, possibilitando o rompimento das conservas culturais e promovendo a espontaneidade dentro da plena capacidade humana. Os principais objetivos do psicodrama, na promoção e prevenção de saúde em pessoas com transtornos mentais, é o incentivo de interações interpessoais, promovendo a socialização e melhorando inclusive o nível afetivo do indivíduo. Também promove uma nova forma de ver o indivíduo com transtorno mental, evitando a dependência de hospital e o massivo foco apenas no papel de doente. Ajuda na exploração da expressão corporal e o movimento.

Deste modo, o psicodrama visa despertar no paciente que tem psicose a existência de duas realidades: a de si próprio e a dos outros, o que por sua vez, proporciona uma diferenciação entre realidade delirante e realidade externa. Espera-se que este estudo possibilite contribuir de forma significativa para o cuidado em saúde mental, conscientizando aos profissionais não somente da área da psicologia, mas de diversas áreas afins sobre a importância de ver a pessoa acometida por algum sofrimento psicológico grave de forma positiva, verificando que a manifestação dos delírios e outros aspectos é a forma que o indivíduo encontra de tentar a conexão com a saúde.

Verificou-se neste estudo, que existe uma quantidade ainda pequena de artigos e livros que correlacionam psicodrama e saúde mental, por isso faz-se necessário que mais estudos sejam realizados nesta área do conhecimento, para o benefício da sociedade acadêmica, possibilitando maior esclarecimento e aprofundamento do tema.

Este estudo possibilitou aos acadêmicos envolvidos em sua construção, grande aprendizado e tomada de consciência sobre a temática saúde mental e psicodrama, e em como estes assuntos abrangidos podem contribuir de forma ética para a prática da profissão, ajudando a resgatar a criatividade e espontaneidade das pessoas que estão acometidas por algum transtorno mental. O fato importante é levantar questionamento e compreensão sobre o ser das possibilidades, em como podemos contribuir para que a pessoa se perceba como livre e criativa, podendo criar e transformar papéis, exercendo plenamente sua humanidade.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, W. C. (org.). Grupos: a proposta do psicodrama. São Paulo: Agora. 1999

ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA – APA. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM- 5. 5.ed. Trad. Maria Inês Corrêa Nascimento et al. Porto Alegre: Artmed, 2014.

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