‘Supergonorreia’ chega aos EUA: o que se sabe sobre a doença

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor

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Dois casos de uma cepa de gonorreia conhecida por ser menos sensível à ação de vários antibióticos foram detectados em Massachusetts, nos EUA, anunciou o Departamento de Saúde Pública dos EUA no último dia 19. Segundo o órgão, esta nova cepa já havia sido encontrada anteriormente no Reino Unido e em países da Ásia-Pacífico, mas estes são os primeiros casos descobertos nos EUA.

A identificação da cepa foi definida pela comissária de saúde pública Margret Cooke, em comunicado oficial, como “um sério problema de saúde pública” nos EUA. Até o momento, nenhuma conexão direta entre as duas pessoas que foram diagnosticadas foi encontrada. Agora, epidemiologistas do órgão estão focados em rastrear outras pessoas que possivelmente tenham adquirido a cepa resistente. A infecção é transmitida durante a prática de sexo desprotegido vaginal, anal ou oral com alguém que esteja infectado. Mulheres grávidas que tenham gonorreia também podem infectar o bebê.

VivaBem conversou com o infectologista Rico Vasconcelos, pesquisador da Faculdade de Medicina da USP e especialista em ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), para tirar dúvidas sobre a cepa. Veja abaixo.

” Não é uma cepa nova, pois já tinha sido encontrada na Ásia em 2021 e 2022, e tinha sido encontrada no Reino Unido, mas é a primeira vez que essa cepa é encontrada nos Estados Unidos e nas Américas, então dá para perceber que é uma cepa que está se espalhando pelo mundo.

Rico Vasconcelos, infectologista e médico do HCFMUSP.

1. Por que a cepa está sendo chamada de “supergonorreia”?

A gonorreia é uma infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria Neisseria gonorrhoea e é considerada a segunda IST bacteriana mais prevalente em todo o mundo. No Brasil, o Ministério da Saúde estima cerca de 500 mil novos casos por ano.

A resistência da gonorreia aos antibióticos disponíveis para o tratamento aumentou nos últimos anos, segundo a OMS. Isso significa que a bactéria está menos sensível aos remédios utilizados para combatê-la. Nos EUA, os dois pacientes foram curados com sucesso com ceftriaxona, o remédio atualmente usado para tratar a doença, mas tiveram uma resposta reduzida a vários antibióticos, o que levou a mídia norte-americana a chamar a cepa de “supergonorreia”.

“Parte da mídia está dando esse nome porque a cepa está perdendo a sensibilidade para esse antibiótico e, se um dia perder de vez, ela vai se tornar resistente ao remédio. Isso não significa que não vai existir nenhum antibiótico possível para tratar a infecção, existem outros. Mas, se isso acontecer, perderíamos mais uma bala do nosso arsenal, por isso existe essa preocupação. Rico Vasconcelos, infectologista e colunista de VivaBem.

2. Por que a gonorreia está se tornando resistente aos antibióticos? Alguns dos fatores citados pela OMS para explicar o aumento da resistência da gonorreia aos antibióticos são: Acesso irrestrito a antibióticos; Seleção inadequada e uso excessivo de antibióticos; Antibióticos de baixa qualidade.

O tratamento atualmente recomendado para a gonorreia é uma combinação dos medicamentos ceftriaxona e azitromicina. No entanto, explica Vasconcelos, médicos em diversas regiões do mundo, inclusive no Brasil, ainda prescrevem antibióticos errados para tratar a infecção, utilizando opções antigas que já perderam a efetividade. “Uma bactéria não fica resistente ao antibiótico senão pela exposição a um antibiótico na dose errada, pelo tempo errado, de maneira errada. Quando você trata a bactéria com antibiótico errado, dá a ela a oportunidade de selecionar as cepas resistentes”, explica o médico.

“Então, tem um pouco de irresponsabilidade também dos profissionais de saúde que estão fazendo abordagem errada desses casos”, diz. Outro fator que favorece a resistência da bactéria aos antibióticos é a falta de rastreamento das pessoas que tiveram contato com indivíduos infectados pela gonorreia. Isso porque a doença pode ser assintomática e, nesses casos, o indivíduo, além de infectar outras pessoas, favorece a sobrevivência e mutação da bactéria.

3. Há riscos para o Brasil? “Risco sempre existe, porque há um fluxo muito grande de pessoas no mundo”, afirma Rico. A covid-19 e o surto de monkeypox em 2022, acrescenta o infectologista, são demonstrações de como uma infecção pode se espalhar rapidamente pelo mundo. No entanto, até o momento, não há registro de gonorreia super-resistente no Brasil. De maneira geral, a recomendação do Ministério da Saúde é buscar pelo serviço público de saúde na presença de sintomas (veja no final do texto). O tratamento oferecido é gratuito e deve se estender também aos parceiros sexuais.

4. Recomendações para evitar que a bactéria se torne super-resistente A prescrição de antibióticos pelos médicos da maneira correta (tipo, dosagem e tempo de uso) e o rastreamento de ISTs são duas ações fundamentais para impedir que a bactéria se torne resistente aos antibióticos mundo afora. “Infelizmente, aqui no Brasil estamos fazendo tudo errado, porque não existe o rastreamento de ISTs entre pessoas com vida sexual ativa. Quando é feito algum rastreamento, é feito de HIV e sífilis, porque o teste de gonorreia e clamídia não é amplamente disponível no Brasil”, avalia o infectologista. O resultado, diz ele, é que muita gente pode estar carregando a bactéria sem apresentar sintomas e, assim, passá-la adiante sem saber, favorecendo as mutações do microrganismo.

“A gente não pode achar que seria possível um dia falar para as pessoas pararem de ter vida sexual, porque essa não é uma forma de controle da disseminação de cepas resistentes. O controle adequado é feito por rastreamento e tratamento adequado. Nos EUA, um alerta foi emitido aos médicos e laboratórios para reforçarem as políticas de conscientização sobre a infecção. A recomendação é aumentar a testagem em pessoas sintomáticas e usar altas doses de ceftriaxona no tratamento dos pacientes. “Pedimos a todas as pessoas sexualmente ativas que sejam regularmente testadas para ISTs e considerem a redução do número de parceiros sexuais e o aumento do uso de preservativos”, acrescentou a agente de saúde Margret Cooke.

Veja os sintomas da gonorreia Em mulheres Em 60% a 70% das mulheres não há sintoma algum. Muitas vezes, a pessoa só toma conhecimento da doença quando o parceiro é diagnosticado. Mesmo sendo raros, nas mulheres, podem ser observados os seguintes sinais: Necessidade urgente de urinar Dor ao urinar Secreção vaginal Dor durante a relação sexual Febre Em homens Entre os homens, os sinais costumam aparecer entre dois a sete dias a contar da infecção. Veja quais são: Dor ao urinar Corrimento purulento (pode ser branco, amarelo ou verde).

FONTE: VIVA BEM UOL

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