No Brasil, a estimativa é de que mais de 35 milhões de pessoas tenham algum problema que cause dificuldade para enxergar. Entre esses casos, pelo menos 900 mil têm o diagnóstico de glaucoma, de acordo com o Ministério da Saúde.
A doença provoca o aumento da pressão interna do olho com alteração irregular no fluxo de sangue, que pode afetar a visão e levar à cegueira permanente.
Um relatório publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019 apontou que cerca de 64 milhões de pessoas em todo o mundo tinham glaucoma na ocasião, sendo que 6,9 milhões de casos (10,9%) são resultado de formas graves da doença, como dificuldade de visão ao longe em grau moderado ou grave e cegueira.
Neste 26 de maio, o Dia Nacional de Combate ao Glaucoma alerta para a importância do diagnóstico precoce. A doença não tem cura, mas pode ser controlada com tratamento contínuo.
Fatores de risco
O glaucoma ocorre quando a pressão elevada no interior do olho passa a danificar as fibras nervosas do nervo óptico com o passar dos anos. O médico oftalmologista Gustavo Bonfadini explica que a condição está associada à diminuição do escoamento de um líquido que circula continuamente no olho humano. A redução no fluxo leva a um acúmulo no órgão que provoca o aumento da pressão intraocular.
“Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maiores são as chances de evitar a perda da visão. A melhor maneira de prevenir é consultar um médico oftalmologista”, diz Bonfadini.
Na maior parte dos casos, o glaucoma não tem uma causa definida. O médico oftalmologista Emerson Fernandes de Sousa e Castro, do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, explica que, em geral, a doença se desenvolve a partir dos 40 anos de idade.
“Existem alguns fatores de risco. Pessoas de origem afrodescendente, com miopia ou com familiares que tenham a doença têm mais risco de desenvolvê-la, mas o grande fator de risco é a idade. Passou dos 40 anos, há mais chance”, afirma Castro.
Segundo o médico, o glaucoma também pode ser causado por fatores secundários como complicações associadas ao diabetes, acidentes e trauma ocular.
Quais são os sintomas da doença?
O glaucoma pode ser uma doença silenciosa, que se desenvolve durante meses ou anos sem apresentar sinais.
“Como o glaucoma, na maioria de suas formas, não apresenta sintomas em estágios iniciais, pois a perda de visão se instala preferencialmente na periferia do campo visual e, geralmente, as pessoas somente procuram tratamento quando já há perda de visão. Isso pode significar que o número de pessoas com glaucoma é muito maior do que aqueles já com perda de visão estabelecida”, diz Roberto Pedrosa Galvão Filho, diretor médico do Instituto de Olhos do Recife e presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG).
De acordo com a SBG, 80% dos casos não apresentam sintomas no início da doença. Na ausência do tratamento, o paciente começa a perder a visão periférica. Quando o indivíduo olha para a frente, enxerga nitidamente os objetos que estão distantes, porém, não vê o que está nas laterais. Nos estágios mais avançados, a visão central também é atingida e o glaucoma pode evoluir para a cegueira.
Quando os sintomas surgem, as pessoas começam a esbarrar nas coisas como um sinal da perda da visão periférica.
Diagnóstico e tratamento
O Ministério da Saúde recomenda consulta ao médico oftalmologista pelo menos uma vez ao ano para avaliações completas da visão. Os exames para o diagnóstico, que avaliam a estrutura dos olhos, o campo de visão e o nível de pressão ocular, são oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O glaucoma é uma doença crônica que não tem cura. No entanto, na maioria dos casos ela pode ser controlada a partir do tratamento adequado e contínuo. Os especialistas alertam que o diagnóstico precoce reduz os riscos de complicações, incluindo a perda da visão. O tratamento pode ser feito com colírios, uso de laser ou cirurgia.
“Como o glaucoma é lento, na maioria das vezes, um exame anual a partir dos 40 anos previne a imensa dos casos e, mesmo que a pessoa desenvolva a doença, o tratamento vai muito bem. Diferentemente da catarata, o tratamento não tem como melhorar, apenas controlar”, afirma o médico.
Aumento das doenças oculares
A OMS alerta que o envelhecimento da população vai afetar significativamente o número de indivíduos com doenças oculares. Até 2030, a quantidade de pessoas em todo o mundo com 60 anos ou mais deve aumentar de 962 milhões (em 2017) para 1,4 bilhões, enquanto o número de pessoas com mais de 80 anos aumentará de 137 milhões (2017) para 202 milhões.
Essas mudanças populacionais, segundo a OMS, levarão a um aumento considerável no número de pessoas com deficiência visual decorrente de doenças oculares graves. As projeções indicam que, até 2030, o número de pessoas com glaucoma relacionado à idade deve aumentar 1,3 vezes, saltando de 76 milhões, em 2020, para 95,4 milhões em 2030.
Além do envelhecimento, mudanças no estilo de vida também podem contribuir para o aumento das doenças que afetam os olhos. A redução do tempo dedicado a atividades ao ar livre, aumento das tarefas que exigem a focagem de perto, como o uso de telas, e o aumento das taxas de urbanização podem contribuir para um aumento significativo nos casos de miopia em escala global.
Fonte: CNN BRASIL