Um tratamento novo, que ainda está em fase inicial no Brasil, pode abrir um novo horizonte para mulheres com câncer nos ovários e que desejam ser mães.
A coleta dos óvulos extracorpórea, que só foi realizada três vezes no Brasil – e oito em todo o mundo -, consiste na retirada dos óvulos do ovário já extraído do corpo da mulher.
Geórgia Cintra, do HCor, especialista em câncer ginecológico, foi responsável por um dos procedimentos, realizado em São Paulo. A paciente é uma mulher de 38 anos que tem um tumor no ovário.
“Antes de descobrir a doença, ela já estava tentando engravidar há mais de um ano. Como este é um sonho dela, oferecemos um tratamento que combina a cirurgia oncológica com a coleta de óvulos no mesmo ato cirúrgico. Para tal, a paciente recebeu medicações que estimularam o amadurecimento de vários óvulos. No dia da coleta destes óvulos, fizemos a cirurgia de retirada do ovário tumoral em ambiente cirúrgico e uma equipe da clínica de fertilização extraiu os óvulos do ovário removido, em uma técnica chamada ‘ex vivo’, ou seja, quando o órgão já está fora do corpo”, explica.
“Como o tumor está dentro do órgão, pelo procedimento tradicional, que seria a aspiração via vaginal, haveria um grande risco de contaminação por células cancerígenas. Ao realizar o procedimento extracorpóreo, a clínica de fertilização consegue fazer a coleta de maneira segura. Para aumentar as chances de a paciente realizar o sonho da gestação, também foram coletados óvulos do órgão preservado. Os óvulos foram congelados e a paciente poderá dar continuidade ao processo de fertilização, após finalizar o tratamento para o câncer de ovário”, completa a médica.
Em alguns casos, pacientes com câncer de ovário inicial conseguem explorar outras opções, mas em situações de idade avançada ou dificuldade anterior para engravidar, como o da paciente, a nova técnica aliada a uma fertilização in vitro será necessária.
“Quanto mais óvulos forem obtidos, maiores as chances de gravidez, por isso a importância de se extrair os óvulos do ovário em que havia o tumor. A média de óvulos congelados, em pacientes que realizam oncopreservação, é de 8,5 óvulos por captação. A chance de gestação varia de 4,5 a 12% por óvulo congelado, a depender da idade de congelamento”.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer, o câncer de ovário é o segundo de maior incidência no que diz respeito a doenças ginecológicas, atrás apenas do câncer do colo do útero. Anualmente, são registrados cerca de 7 mil casos e mais de 4 mil mortes.
As mulheres que já passaram pela menopausa são as mais atingidas, mas a doença também pode aparecer em quem ainda está em idade fértil, e que ainda não tiveram filhos. Os sintomas são inespecíficos, o que exige um cuidado da mulher nos exames de rotina.
Em casos mais avançados, a paciente pode apresentar inchaço e dor abdominal, perda de apetite e mudanças nos hábitos intestinal e urinário. Exames de imagem, como o ultrassom transvaginal e a ressonância magnética podem detectar o tumor.
A confirmação é feita por meio de uma biópsia, e como em todo caso de câncer, o tratamento varia de acordo com o estágio da doença e o paciente.
“O câncer de ovário costuma ser bem agressivo, mas em mulheres em que o tumor estava restrito ao ovário e com menos de 44 anos, a chance de sobrevida pode chegar a 91%. Já para aquelas com mais de 60 anos, a taxa cai para 40%”, finaliza a especialista.
Fonte: NEWSLAB