Pesquisadores iniciam o primeiro tratamento com tecnologia CRISPR para Duchenne no mundo

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Tecnologia de edição genética deve alterar o tratamento médico de diversas doenças. Valentin, de quatro anos, será a primeira criança brasileira entre os pacientes que participam da pesquisa nos Estados Unidos

Um diagnóstico assustador. Essa é a realidade de 1 a cada 3.500 nascidos vivos do sexo masculino no mundo, portadores de Distrofia Muscular de Duchenne, uma doença genética rara degenerativa, com expectativa média de vida de 20 a 30 anos.

Duchenne é uma doença que se caracteriza pela ausência da produção de distrofina, uma proteína essencial para a integridade muscular, causando uma degeneração progressiva na primeira infância e levando à morte do paciente de forma prematura.

O mais assustador é que, além do comprometimento muscular e do desenvolvimento, os pacientes convivem diariamente com a incerteza, já que Duchenne não tem cura ou tratamento eficaz. Porém, essa realidade pode mudar em breve.

Pesquisadores do mundo inteiro estão envolvidos no desenvolvimento de um novo tratamento com a tecnologia CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats), uma técnica de edição genética, que deve revolucionar o tratamento de diversas doenças. A tecnologia funciona como uma espécie de tesoura genética capaz de editar uma parte específica do DNA.

CRISPR é a abreviação em inglês para grupos de repetições palindrômicas curtas regularmente espaçadas – uma resposta imune complexa que as bactérias usam para afastar os vírus, cortando seu DNA. Os pesquisadores descobriram como aproveitar esse mecanismo programando o CRISPR para agir como uma “tesoura molecular”, excluindo ou substituindo fitas de DNA mutado para modificar a função do gene.

No caso de Duchenne, pode ser usado para restaurar a capacidade do gene DMD de produzir distrofina. Isso já foi comprovado em estudos com animais. Agora, o tratamento chega aos pacientes.

Uma destas iniciativas é liderada pela Cure Rare Disease, uma organização americana sem fins lucrativos que promove a colaboração de pesquisadores e médicos para desenvolver terapias personalizadas para doenças raras que ainda não tem cura. A instituição deve iniciar no primeiro trimestre deste ano o primeiro tratamento personalizado com CRISPR com pacientes de Duchenne.

O tratamento consiste no desenvolvimento de um medicamento personalizado para cada paciente e envolve cinco diferentes estágios: biópsia muscular; validação da eficácia terapêutica do paciente em nível celular; teste do medicamento em modelagem de tecidos; desenvolvimento e teste de segurança do medicamento no paciente e aprovação junto à FDA e acompanhamento clínico do paciente durante cinco anos.

“Essa é uma grande notícia não apenas para os pacientes e familiares com a distrofia muscular de Duchenne, mas para toda comunidade médica e científica já que Duchenne é uma doença complexa e difícil de resolver”, comenta Dr. Paulo T. Maluf Junior, pediatra.

O americano Terry Horgan, de 20 anos, deverá ser o primeiro a receber este tratamento inovador, ainda no primeiro trimestre de 2022. O pequeno Valentin Heymich, brasileiro de apenas quatro anos, também está aguardando seu momento de participar do tratamento.

Mas para Valentin ter acesso a esse tratamento, será necessário arrecadar um total de $2.5 milhões de dólares (o equivalente a R$ 10 milhões de reais), que serão usados em todas as etapas de pesquisa, desenvolvimento e a cura, dentro do prazo de quatro anos. Esse tratamento é a única chance de cura para Valentin, que possui uma mutação rara, uma duplicação no exon 28.

“Receber o diagnóstico do Valentin foi e ainda é um dos dias mais difíceis da minha vida. Foi como receber uma sentença de morte. Saber que você vai perder um filho até hoje me assusta muito. Mas, ao mesmo tempo conheci uma força e uma potência dentro de mim que eu nunca imaginei ter. E isso me fez buscar a cura do meu filho, foi quando conheci a Cure Rare Disease e a possibilidade deste tratamento, o que voltou a acender a esperança em nós”, conta Natália Heymich, mãe do Valentin.

Para entender melhor a tecnologia CRISPR para Duchenne

Duchenne é causada por mutações (alterações) no gene da distrofina. Um gene é composto de regiões codificantes chamadas exons e as áreas entre os exons são chamadas de íntrons.

A produção da proteína distrofina a partir do gene envolve várias etapas. Uma das primeiras etapas é remover os íntrons e encaixar os exons, 1-79, como peças de um quebra-cabeça. Se houver uma peça faltando no gene da distrofina (exclusão) ou uma peça extra (duplicação), seu corpo pode ter dificuldade em produzir distrofina.

Como o gene da distrofina é um dos maiores genes do nosso corpo, ele pode frequentemente adquirir mutações (alterações). Milhares de diferentes mutações foram relatadas no gene da distrofina, o que torna essa doença extremamente complexa.

A especialista explica, ainda, que a Distrofia Muscular de Duchenne possui três tipos de mutação:

– Quando falta um ou mais exons no gene da distrofina, o que os cientistas chamam de deleção (ocorre em 70% dos casos)

– Quando ocorrem pequenas mutações que não impactam o exon como um todo. As vezes em uma letra falta parte de sua estrutura ou não está bem definida (20% dos casos)

– Quando um ou mais exons aparecem duplicados na cadeia genética (10% dos casos e o caso do pequeno Valentin).

Sobre a Distrofia Mucular de Duchenne

A Distrofia Muscular de Duchenne pode ser transmitida de mãe para filho ou pode ser o resultado de mutações genéticas espontâneas aleatórias, que podem ocorrer durante qualquer gravidez. Na verdade, cerca de um em cada três casos ocorre em famílias sem história anterior de Duchenne.

A idade média do diagnóstico é em torno dos quatro anos. Muitas vezes, haverá atrasos nos primeiros marcos do desenvolvimento, como sentar, andar e / ou falar. O atraso na fala e / ou a incapacidade de acompanhar os colegas geralmente são os primeiros sinais do transtorno. A doença progride de forma diferente para cada pessoa e, mesmo entre irmãos com a mesma mutação, podem ter uma progressão de sintomas muito diferente.

A perda muscular é notada pela primeira vez na infância, com perda de força, função e flexibilidade nos quadris, coxas, ombros e pelve. Na adolescência, essas perdas começam a progredir para os braços, pernas e tronco.

Como também há ausência de distrofina nos músculos do coração e dos pulmões, a função cardíaca e a respiração também são afetadas. Além disso, algumas pessoas podem ter problemas de aprendizagem e comportamento, resultantes da falta de distrofina no cérebro.

Fonte: NEWSLAB

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