Yan e colaboradores publicaram na revista Pediatric Rheumatology, em novembro de 2020, um estudo avaliando o uso da ferramenta Patient Reported Outcomes Measurement Information System (PROMIS) para rastrear depressão em pacientes portadores de artrite idiopática juvenil (AIJ). Além disso, avaliaram as características demográficas, clínicas e outras particularidades que pudessem ter relação com maiores scores de sintomas depressivos.
Artrite idiopática juvenil
A AIJ é caracterizada pela presença de artrite crônica; o número de articulações acometidas e a presença de outros sintomas (como entesite, febre, rash cutâneo, entre outros) varia de acordo com o subtipo da doença. Crianças com AIJ têm maior risco de desenvolver sequelas articulares e, consequentemente, de apresentar deformidades e limitações ao longo da vida, com piora da qualidade de vida. Problemas relacionados à qualidade de vida incluem problemas emocionais (depressão, ansiedade, isolamento social), dor e pior funcionalidade física. Em um estudo, crianças com AIJ apresentaram 3 vezes mais distúrbios psiquiátricos do que o grupo controle, frequentemente depressão.
A qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) em crianças com artrite tem sido avaliada através de medidas baseadas em desfechos relatados pelo paciente, como aquelas que avaliam a funcionalidade física (Childhood Health Assessment Questionnaire/CHAQ e Juvenile Arthritis Functional Assessment Scale/JAFAS) e outras, como o PROMIS, que avaliam a funcionalidade física, a saúde mental e as interações sociais. Na fase piloto do estudo, foi constatado que algumas crianças apresentavam sintomas depressivos antes mesmo de expressarem esse sofrimento com os pais ou com a equipe médica.
Características do estudo
Para a realização do estudo, pacientes de 8 – 17 anos com diagnóstico de AIJ segundo os critérios da International League of Associations for Rheumatology (ILAR) responderam o questionário PROMIS em todas as consultas, no período de 2014 – 2017. Dados demográficos, de qualidade de vida e sobre as características da doença foram coletados no mesmo período.
Foram avaliados 148 pacientes, sendo 114 do sexo feminino (total de 435 visitas) e 34 do sexo masculino (118 visitas). Desses, 70 apresentavam oligoartrite persistente, 9 oligoartrite estendida, 19 artrite relacionada à entesite (ERA), 21 poliartrite com fator reumatoide (FR) negativo, 5 poliartrite com FR positivo, 11 artrite indiferenciada, 3 artrite psoriásica e 10 AIJ sistêmica.
Apresentaram relação com depressão os T-scores de gênero, de raça (homens e japoneses apresentavam menores T-scores), de número de articulações acometidas, de score de interferência da dor, e da avaliação global de atividade de doença do médico e do paciente (graduação em escala de 0 a 10 avaliando dor e atividade de doença na última semana). Nenhum subtipo específico de AIJ foi associado com os T-scores de depressão. Os domínios de QVRS estavam interrelacionados, e os pacientes que relataram sintomas depressivos tendiam a relatar também sintomas ansiosos. O PROMIS identificou 15 pacientes que não relataram sintomas depressivos, mas necessitaram ser encaminhados para aconselhamento, 8 não apresentaram sintomas depressivos até a 2ª ou 3ª consulta. Apenas 3 pacientes apresentaram surto da doença. Conflitos parentais e bullying foram mencionados por 7 pacientes durante entrevista com assistente social. Todos os 148 pacientes demonstraram preocupação em relação à AIJ.
Conclusão
Frente a esses resultados, o estudo concluiu que o PROMIS é uma ferramenta útil no rastreio de sintomas depressivos nos pacientes com AIJ, especialmente naqueles pacientes que não relatam esses sintomas.