Uso de IGRA no diagnóstico de tuberculose em crianças HIV positivas

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Tuberculose é uma das principais doenças infecciosas no Brasil atualmente, sendo uma das principais causas de morte em indivíduos convivendo com HIV. O diagnóstico e tratamento precoces são essenciais para um desfecho favorável e para o controle da transmissão da doença.

Em crianças, o diagnóstico de tuberculose é mais desafiador pela dificuldade na obtenção de amostras respiratórias de qualidade para realização de exames diretos. Em crianças infectadas pelo HIV, a dificuldade aumenta, uma vez que as formas pulmonares paucibacilíferas são mais frequentes.

Por esses motivos, o diagnóstico de tuberculose em crianças é baseado na presença de um conjunto de sinais, sintomas, história epidemiológica e evidências de resposta imune a Mycobacterium tuberculosis. Para o Brasil, utiliza-se um sistema de pontuação e o exame validado para avaliar a resposta imune é o teste tuberculínico (PPD).

Nos últimos anos, outro teste para avaliação de resposta imune a M. tuberculosis vem ganhando espaço na prática clínica, o IGRA, que mensura a liberação de interferon-gama por parte de linfócitos-T em resposta a antígenos específicos da micobactéria. Entre as vantagens do IGRA em relação ao PPD, estão a facilidade na execução e a possibilidade de realização em uma única visita à unidade de saúde. Além disso, estoques de PPD sofreram com problemas de desabastecimento nos últimos anos. Estudos têm demonstrado sensibilidades semelhantes ou maiores do que o PPD em adultos.

Entretanto, o real papel do uso de IGRA para o diagnóstico de TB em crianças infectadas pelo HIV ainda é incerto, principalmente em países de alta prevalência, como o Brasil. Um estudo conduzido em Burkina Faso procurou avaliar a contribuição do IGRA no diagnóstico de TB ativa nessa população.

Materiais e métodos

Foram incluídas 63 crianças HIV positivas entre 0 e 13 anos, em tratamento antirretroviral ou não, com suspeita de tuberculose ativa baseada na presença de pelo menos um dos seguintes: tosse e/ou febre por pelo menos 2 semanas, falha ao tratamento de infecção pulmonar com antibióticos de amplo espectro ou alterações na radiografia de tórax. Participantes com história de tratamento para TB nos últimos 2 anos foram excluídos.

Os participantes incluídos foram submetidos a coleta de IGRA, realização de PPD e contagem de carga viral e de linfócitos T-CD4, além de coleta de amostras biológicas (aspirado gástrico ou amostras de escarro espontâneo) para realização de microscopia, teste rápido molecular e cultura para micobactérias.

Definiu-se como diagnóstico de TB ativa para qualquer criança com cultura positiva para M. tuberculosis ou detecção de micobactéria por exame direto ou teste rápido molecular. Pela dificuldade em se obter amostras de boa qualidade para esses exames, considerou-se como tendo TB ativa também as crianças com evidências clínicas e radiológicas de TB ativa e história de exposição a indivíduo bacilífero.

Resultados

A frequência de TB ativa encontrada foi de 49,2% (31 dos 63 participantes). Foram coletadas 167 amostras biológicas das 31 crianças com TB, sendo 21 (provenientes de 13 pacientes) positivas em exames bacteriológicos (2 à microscopia, 7 em cultura e 12 no teste rápido molecular).

IGRA foi realizado em 58 dos 63 participantes: 12% dos testes foram positivos, 52% foram negativos e 36% foram indeterminados. Das 31 crianças com TB ativa, 29 realizaram o teste de IGRA, sendo 6 positivos (taxa de confirmação de 20,69%). Além disso, um teste de IGRA foi positivo em uma criança que não foi considerada como tendo TB ativa. Todos os 52 exames de PPD realizados foram negativos.

Não houve associação entre os resultados do IGRA e idade, sexo, uso de terapia antirretroviral, contagem de linfócitos T-CD4 ou carga viral do HIV. Entretanto, houve diferenças estatisticamente significativas nos resultados do IGRA e vacinação com BCG, status nutricional e estágio da infecção pelo HIV.

Pelos resultados dos estudos, a sensibilidade do IGRA foi de 20,69%, a especificidade foi de 96,55%, o valor preditivo positivo foi de 85,71% e o valor preditivo negativo foi de 54,9%.

Mensagens práticas

  • Os resultados encontrados demonstram baixa sensibilidade do IGRA para o diagnóstico de tuberculose ativa em crianças com HIV.
  • Fatores como vacinação com BCG, status nutricional e grau de imunossupressão (estágio III da infecção pelo HIV) podem influenciar na performance do IGRA no diagnóstico de TB ativa.

Fonte: Newslab

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