Estudo realizado pela pesquisadora Carolini Kaid, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da Universidade de São Paulo (USP) descobriu que o vírus da Zika é capaz de infectar e matar as células de tumores cerebrais com eficácia, sem causar danos às células saudáveis. A pesquisa faz parte da tese de doutorado vencedora do Prêmio Capes de Tese 2020 na área de Biologia Genética.
Os tumores embrionários cerebrais atingem crianças de até quatro anos e correspondem a 10% dos casos de câncer do sistema nervoso central infantil. “Minha pesquisa focou em encontrar respostas para as duas maiores problemáticas nos tumores pediátricos do sistema nervoso central: a falta de um diagnóstico precoce e de terapias efetivas. Esses são alguns dos motivos da alta taxa de mortalidade”, explica Carolini Kaid. No Brasil, a doença causa 110.000 mortes por ano, contra 70.000 da média mundial (fonte: Globocan 2018), com uma mortalidade de 60% dos pacientes pediátricos.
A pesquisadora explica que o Zika tem preferência pelas células do sistema nervoso central (SNC), principalmente pelas células-tronco neurais, que dão origem aos neurônios. Por isso, a infecção pode afetar mulheres grávidas, causando problemas na formação dos bebês, como a microcefalia. Entre os resultados, Kaid identificou proteínas e sequências de RNAs no sangue que podem ajudar no diagnóstico precoce e confirmar se o câncer é benigno ou agressivo.
O estudo também confirmou abordagens terapêuticas que podem ser utilizadas para reduzir os tumores. “A primeira terapia introduz genes sadios com uso de técnicas de DNA recombinante e a segunda usa o vírus Zika”, esclarece Kaid. Os resultados são animadores, pois demonstraram que o vírus atacou as células tumorais que têm as mesmas características que as células-tronco do cérebro. Além disso, o vírus não foi capaz de infectar os neurônios já desenvolvidos. “Essa terapia pode ser aplicada tanto no Brasil como em todo o mundo, e tem um grande potencial”, afirma a pesquisadora, que agora trabalha para que o tratamento possa ser disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O uso de vírus para o tratamento de doenças é estudado há apenas 50 anos. Carolini Kaid acredita que a linha de pesquisa é promissora e inovadora. “É uma espécie de imunoterapia, e os resultados que vimos com o Zika foram impressionantes. Em apenas três dias todas as células tumorais estavam mortas. Tivemos muito reconhecimento com esse artigo, pois laboratórios de vários países entraram em contato para realizar colaborações e ganhamos esse prêmio maravilhoso da CAPES”, conclui. A patente da técnica foi depositada pela USP no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa e no Japão.
Fonte: CCS/CAPES