A imunidade celular robusta após uma infecção leve ou assintomática pelo vírus SARS-CoV-2, causador da covid-19, dura pelo menos seis meses, revela um estudo publicado pelo periódico “The British Medical Journal”. A pesquisa, realizada pelo UK Coronavirus Immunology Consortium and Public Health England com 100 pessoas, mostrou que todas tiveram uma resposta imune celular contra o SARS-CoV-2 seis meses após a infecção. Observou-se que o tamanho da resposta foi 50% maior naqueles que tiveram doença sintomática.
“Esses dados são reconfortantes”, disse o principal autor do estudo, Paul Moss, da Universidade de Birmingham (Reino Unido), em um informe do Science Media Center divulgado em 2 de novembro. “No entanto, isso não significa que as pessoas não possam ser reinfectadas. Precisamos ter estudos populacionais muito maiores para mostrar isso.”
As conclusões “não podem ser tomadas como confirmação de que um ‘passaporte de imunidade’ seria viável”, frisou Moss.
Primeiro no mundo
O estudo publicado com o preprint, e ainda não revisado por pares, é considerado o primeiro no mundo a mostrar que uma memória celular robusta contra o vírus persiste por pelo menos seis meses.
Os pesquisadores coletaram amostras de soro e sangue de uma coorte de mais de 2 mil profissionais de saúde clínicos e não clínicos. Entre eles estavam 100 que testaram soropositivos para SARS-CoV-2 em março e abril de 2020. A idade média desses doadores era 41 (intervalo de 22 até 65 anos). No grupo utilizado, 23 eram homens e 77 eram mulheres. Nenhum deles foi hospitalizado com covid-19. Enquanto 56 dessas pessoas tiveram sintomas leves ou moderados, 44 eram assintomáticas.
Foram coletadas mensalmente amostras de soro para medir os níveis de anticorpos. Amostras de sangue foram retiradas após seis meses para medir a resposta das células T. O estudo descobriu que as células T específicas do vírus eram detectáveis em todos os doadores em seis meses.
Os níveis de anticorpos caíram cerca de 50% durante os primeiros dois meses após a infecção. Depois disso, porém, eles se estabilizaram. A magnitude da resposta das células T em seis meses foi fortemente correlacionada com a magnitude da resposta máxima de anticorpos, concluiu o estudo.
Segundo Moss, a descoberta de que a resposta das células T foi 50% maior naqueles que apresentaram sintomas não significa necessariamente que pessoas assintomáticas podem ser mais suscetíveis à reinfecção. Estas últimas podem ser melhores no combate ao vírus sem a necessidade de gerar uma grande resposta imune.
Desenvolvimento de vacinas
Os resultados têm implicações para o desenvolvimento de vacinas. A resposta celular foi dirigida contra uma série de proteínas do vírus, incluindo a proteína spike que está sendo usada como alvo na maioria dos estudos de vacinas. Os autores do estudo sugeriram que, como as respostas das células T também eram direcionadas contra nucleoproteínas e proteínas de membrana adicionais, elas também poderiam ser alvos valiosos para estratégias de vacinas futuras.
“Esta é uma notícia promissora. Se a infecção natural com o vírus pode provocar uma resposta robusta das células T, então isso pode significar que uma vacina poderia fazer o mesmo”, disse Fiona Watt, diretora executiva do Conselho de Pesquisa Médica.
Também ouvido pelo “BMJ”, Charles Bangham, diretor de imunologia do Imperial College de Londres, declarou: “Este excelente estudo fornece fortes evidências de que a imunidade das células T ao SARS-CoV-2 pode durar mais do que a imunidade dos anticorpos. (…) Esses resultados fornecem garantias de que, embora a concentração de anticorpos para SARS-CoV-2 possa cair abaixo dos níveis detectáveis dentro de alguns meses após a infecção, um grau de imunidade ao vírus pode ser mantido. No entanto, a questão crítica permanece: essas células T persistentes fornecem proteção eficiente contra a reinfecção?”
Fonte: Revista Planeta