Mecanismo celular pode explicar por que Covid-19 é diferente em cada pessoa

Cientistas norte-americanos e britânicos investigaram o funcionamento das células T CD4+, analisaram como elas respondem ao Sars-CoV-2 e encontraram pistas importantes

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Um novo estudo liderado por cientistas do Instituto La Jolla de Imunologia, nos Estados Unidos, das universidades de Liverpool e de Southampton, ambas no Reino Unido, é o primeiro a fornecer um retrato detalhado de como as células T CD4+ do corpo respondem ao Sars-Cov-2. O artigo publicado nesta terça-feira (6) no periódico Cell fornece uma base crucial para análises mais detalhadas sobre o assunto

O trabalho da equipe sugere, que no início da doença, os pacientes hospitalizados com casos graves de Covid-19 desenvolvem um novo subconjunto de células T que pode matar as células B e reduzir a produção de anticorpos. A descoberta foi feita graças a uma técnica chamada sequenciamento de RNA de célula única (RNA-seq).

“Este estudo emprega RNA-seq de célula única para analisar moléculas de RNA expressas por células T CD4+ que reconhecem especificamente o Sars-Cov-2”, disse Pandurangan Vijayanand, um dos cientistas, em comunicado. “Isso nos permite mostrar, pela primeira vez, a natureza completa das células que respondem a esse vírus.”

A técnica oferece aos pesquisadores uma nova janela para os padrões de expressão gênica que podem diferenciar a resposta imunológica de cada pessoa a um vírus. Para o novo estudo, os pesquisadores se concentraram nas células T CD4+, que desempenham muitas funções críticas no combate a infecções como a Covid-19.

Os pesquisadores estudaram amostras de 40 pacientes que testaram positivo para o novo Coronavírus. Dentre eles, 22 foram hospitalizados e 18 apresentaram sintomas mais leves da Covid-19. Os cientistas usaram o RNA-seq para analisar os tipos de células T CD4+ que respondiam ao Sars-CoV-2 nesses indivíduos.

Cada tipo de célula T tem um papel no combate aos vírus. Enquanto as CD4 + “auxiliares” alertam o corpo sobre a infecção e recrutam outras células do sistema imunológico, as células TFH sinalizam às células B para produzir anticorpos. Já as Tregs têm o importante trabalho de inibir outras células T, evitando que o sistema imunológico danifique os próprios tecidos do corpo.

Os cientistas descobriram que pacientes hospitalizados têm níveis mais altos de células TFH “citotóxicas”, o que pode piorar uma infecção, pois, em vez de fazer o seu trabalho e ajudar as células B a produzir anticorpos, elas foram observadas matando células B. Nos pacientes em que esse fenômeno foi observado havia também uma menor quantidade de anticorpos contra o Sars-Cov-2

A equipe acredita que, no geral, o estudo oferece à comunidade científica um ponto de partida para explorar as respostas das células T CD4+ ao SARS-CoV-2 . Além disso, o trabalho estabelece uma base para comparação da resposta imune em pessoas ao longo do tempo ou com diferentes gravidades de doenças.

Por isso, apenas dois meses após o início do projeto os cientistas compartilharam seus resultados online. “Tínhamos que ser rápidos”, afirmou Ciro Ramírez-Suástegui, especialista em bioinformática e coautor do estudo. “Ter os dados disponíveis para todos é essencial.”

Na verdade, os dados e o método de pesquisa podem ser importantes para além de estudos sobre doenças infecciosas. Uma melhor compreensão de como o corpo responde aos vírus também pode orientar pesquisas futuras sobre imunoterapias contra o câncer, que usariam o próprio sistema imunológico para atingir e matar células malignas.

“Com esse estudo, demos nossa colaboração de longa data para um novo quebra-cabeça da saúde humana”, obsevou o coautor Christian Ottensmeier. “Daqui para frente, podemos estender essa compreensão do que está acontecendo no sangue em resposta a novos vírus para entender o que acontece no tecido quando nosso sistema imunológico lida com o câncer.”

Fonte: Revista Galileu

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