Um novo estudo sobre os efeitos no corpo humano do vírus chikungunya apontou que além dos já conhecidos danos nas articulações, a doença pode infectar também o sistema nervoso central e comprometer funções motoras.
A pesquisa foi realizada por 38 pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), da Universidade de São Paulo (USP), do Ministério da Saúde, do Imperial College de Londres e da Universidade de Oxford.
O trabalho teve como base os dados clínicos, epidemiológicos e amostras laboratoriais de pacientes que morreram durante o maior surto da doença nas Américas, no Ceará, em 2017. Na época, foram registrados 105 mil casos suspeitos e 68 mortes.
Os pesquisadores verificaram os prontuários médicos e observaram que a maioria dos mortos durante o surto no Ceará apresentou síndrome neurológica, ou seja, lesões no sistema nervoso central que podem comprometer as principais funções motoras.
“As dores articulares eram bem conhecidas e estão relacionadas com a denominação da doença, que no idioma suaíli significa aquele que se dobra [de dor]. No entanto, identificamos também graves problemas no sistema nervoso”, disse William Marciel de Souza, pesquisador da USP e coautor do artigo publicado na revista Clinical Infectious Diseases, à Agência Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de SP).
Das 36 amostras de tecido cerebral de vítimas da doença no Ceará, 4 delas (11%) continham o microrganismo.
“A presença do vírus dentro do cérebro de infectados significa uma caracterização bem clara de que ele consegue ultrapassar a barreira hematoencefálica – que protege o sistema nervoso central – e tem capacidade de causar uma infecção no cérebro e na medula espinhal”, explica o pesquisador.
A chikungunya é transmitida por meio da picada de fêmeas dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus.
A maioria dos casos da doença é caracterizada pela forma aguda da infecção, com febre alta, dores de cabeça, nas articulações e nos músculos, além de náusea, fadiga e erupções na pele, por três semanas após a infecção.
Grupos mais vulneráveis
Os pesquisadores também encontraram padrões inesperados para epidemias causadas pelo arbovírus, como o chikungunya: idosos e crianças, por exemplo, não são os grupos etários com maior risco de morte. No surto de 2017, a maioria das vítimas tinha 40 anos ou mais.
“Normalmente, relacionamos esse vírus a hospitalizações e óbito de pacientes mais idosos ou crianças. Porém, foi observado que a maioria [mais de 60%] das pessoas infectadas pelo chikungunya que apresentou infecção no sistema nervoso central e foi a óbito era adulta”, relata Souza.
“A investigação mostra ainda que pacientes com diabetes parecem morrer com frequência sete vezes maior durante as fases aguda e subaguda da doença [entre 20 e 90 dias após serem infectados] que indivíduos sem a comorbidade”, completou.
A pesquisa contou com apoio da Fapesp e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Fonte: CNN Brasil