Segundo dados do Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais 2019 divulgados pelo Ministério da Saúde, no Brasil, entre 1999 a 2018, foram registrados 632.814 casos da doença. Desse total, 167.108 (26,4%) foram do tipo A, 233.027 (36,8%) do B, 228.695 (36,1%) do C e 3.984 (0,7%) do D (Delta). As hepatites constituem um número elevado de casos, e por este motivo, em conscientização e para reforço às ações de vigilância e controle, foi instituído no Brasil, o “Julho Amarelo” como mês de prevenção às hepatites virais.
A hepatite é conceituada como uma inflamação do fígado. Esta inflamação pode apresentar diversas etiologias, tais como, uso medicamentos, álcool e outras drogas, doenças autoimunes, metabólicas e genéticas, que levam à destruição das células hepáticas (hepatócitos), gerando diversas consequências ao organismo humano.
Existem diversos tipos de vírus causadores de hepatite. Dentre eles, podemos listar os vírus da hepatite A, hepatite B, hepatite C, consideradas as mais comuns, tendo ainda entre elas, segundo o Ministério da Saúde, sendo a hepatite A, a mais incidente, tendo sido em 2018 notificados 2.149 casos de hepatite A no Brasil, o que equivale a uma taxa de detecção de 1 caso por 100 mil habitantes. A mesma é transmitida pelo VHA, principalmente por meio da ingestão de água e/ou alimentos contaminados, por meio da via fecal-oral. Outra via de transmissão também já relatada, é a via sexual, no entanto, esta é mais rara neste tipo de hepatite. Geralmente este tipo de hepatite não apresenta sintomatologia, ou quando os mesmos estão presentes, se manifestam em cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre, dor abdominal, icterícia (amarelamento de pele e mucosas), urina escura e fezes claras, desaparecendo cerca de 15 a 30 dias após a infecção. Sua detecção se dá através da dosagem de anticorpos Anti-VHA IgM e anti-VHA IgG.
Outro tipo de comum de hepatite é a B, a qual tem como agente etiológico o VHB, que se transmite por meio da relação sexual sem proteção, visto que, o vírus pode ser encontrado no sangue, no esperma e no leite materno. A maioria dos casos de se dá de forma assintomática, no entanto, quando existem, são semelhantes aos sintomas da hepatite A. Porém, os mesmos costumam aparecer de um a seis meses após a infecção. Seu diagnóstico geralmente se dá por meio da dosagem de anticorpos HbSAg (1º marcador a surgir: antes da sintomatologia, e sua presença traduz a presença de infecção), anti HBc IgM(marcador que permite diagnosticar uma infecção aguda) ou IgG (quando aparece em conjunto com o Ac Anti-HBs significa infecção passada, com imunidade) e HBeAg (detectável no soro em fases de replicação viral).
O terceiro tipo mais comum de hepatite é a C, que tem por agente causador o VHC, transmitido por diversos meios, tais como, compartilhamento de seringas, agulhas, cachimbos, itens de higiene pessoal, ou por meio da confecção de tatuagem e colocação de piercings; de mãe infectada para o filho durante a gravidez (vertical); relação sexual sem camisinha com uma pessoa infectada. No entanto, vale ressaltar que este tipo de hepatite ficou muito conhecida em decorrência das transfusões de sangue ou derivados que ocorriam antes de 1992, ano em que foram introduzidos os exames para seleção de doadores. Quando a infecção pelo HCV persiste por mais de seis meses, o que é comum em até 80% dos casos, caracteriza-se a evolução para a forma crônica. Seu diagnóstico ocorre por meio da dosagem de anticorpos Anti-VHC IgM e anti-VHC IgG.
Outros tipos de hepatite são menos comuns, mas não menos importantes, sendo elas hepatite D, hepatite E, hepatite F. Em 1995 foi descoberto ainda o vírus da hepatite G, responsável por cerca de 0,3 % de todas as hepatites virais.
Também chamada hepatite Delta ou Hepatite D, esse tipo da hepatite depende da presença do vírus B para provocar contaminação. Da mesma forma que os outros tipos, dificilmente apresenta sintomas, ou quando apresentam, são os mesmos. A forma de transmissão se dá por via sexual, sem proteção, da mãe para o filho durante o parto e pelo compartilhamento de objetos cortantes. A melhor forma profilática é não contrair a hepatite B, por meio da vacina. É possível identificar a sua presença através da dosagem de anticorpos anti-HDV IgM.
Outro tipo menos comum de hepatite é a hepatite E, a qual apresenta baixa prevalência no Brasil. Tem forma de contágio semelhante à hepatite A, e geralmente é assintomática ou com sintomas semelhantes às demais. Na maioria dos casos, não necessita de tratamento, no entanto, há o risco de cronificar. Além destas, vale ressaltar a hepatite F, a qual ainda é muito discutida por muitos autores, pois a dificuldade em definir a etiologia de muitos casos de hepatite fulminante sugere que o Toga vírus ou vírus F, poderia ser o agente etiológico da hepatite F, porém, muitas investigações não confirmaram a presença do agente viral. Por fim, a hepatite G, causada pelo VHG, a qual ainda se desconhece, todas as formas de contágio possíveis, tendo como única certeza, a transmissão pelo contato sanguíneo.
Em tempos de pandemia por COVID-19, pacientes com doença hepática avançada representam grupos susceptíveis, correndo um risco maior de infecção grave, se infectados pela COVID-19, daí a importância da conscientização em todos os sentidos.