Uma das principais questões que tem intrigado os cientistas acerca da Covid-19 é por quanto tempo o nosso corpo, uma vez infectado, consegue produzir anticorpos contra a doença. Segundo um estudo realizado no distrito de Wanzhou, na China, e publicado na Nature Medicine na última quinta-feira (18), esse período é de apenas dois ou três meses, especialmente entre assintomáticos.
A pesquisa, que é a primeira a caracterizar a resposta imunológica de pacientes que não apresentaram sintomas, comparou 74 participantes em fase inicial de recuperação: 37 deles eram assintomáticos e outros 37, sintomáticos.
Em testes, foi observado que 40% dos pacientes assintomáticos tinham níveis indetectáveis de anticorpos para o Sars-CoV-2 num período de dois a três meses. Entre os que tiveram manifestação clínica da Covid-19, essa porcentagem foi de apenas 13%. Por terem também níveis menores de citocinas anti-inflamatórias e outros agentes imunológicos, os cientistas concluíram que assintomáticos apresentam uma resposta imune mais fraca ao vírus.
Mas isso não significa necessariamente que possa haver uma segunda infecção em pessoas desse grupo, já que até mesmo baixos níveis de anticorpos podem protegê-las, como mostra um segundo estudo publicado nesta quinta-feira, também na Nature Medicine. Outros mecanismos do sistema imunológico, como as células T e B, também têm participação ativa contra um novo encontro com o vírus. A partir da “memória” da primeira infecção, por exemplo, as células B podem aumentar a produção de anticorpos contra o Sars-CoV-2.
“Se [as células do sistema imunológico] encontrarem o vírus novamente, elas se lembram e começam a produzir anticorpos muito, muito rapidamente”, explica a virologista Florian Krammer, que não participou do estudo chinês, mas liderou várias pesquisas de anticorpos contra o coronavírus, em entrevista ao The New York Times.
Para a imunologista Akiko Iwasaki, da Universidade Yale, nos Estados Unidos, os novos estudos ressaltam a importância da vacinação contra o Sars-CoV-2. “Esses relatórios destacam a necessidade de desenvolver vacinas fortes, porque a imunidade que se desenvolve naturalmente durante a infecção é subótima e tem vida curta na maioria das pessoas”, disse também em entrevista ao jornal norte-americano. “Não podemos confiar na infecção natural para alcançar a imunidade de rebanho”.
O estudo chinês, de fato, apresenta novas desvantagens aos governos que optaram por investir na imunidade de rebanho ao invés do isolamento social. A primeira alternativa permite que o máximo de pessoas possíveis contraiam a doença, considerando que a maioria dos casos serão leves e que, uma vez infectados, produzirão naturalmente anticorpos para o vírus. O que os governantes não contavam é que essa produção poderia ser de apenas dois a três meses.
“Esses dados podem indicar os riscos de usar ‘passaportes de imunidade’ para a Covid-19 e apoiar a prolongação de intervenções de saúde pública, incluindo o distanciamento social, higiene, isolamento de grupos de risco e teste generalizado”, escreveram os cientistas chineses no artigo.
Fonte: Galileu