Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada dez pessoas estima-se que nove respirem frequentemente níveis perigosos de ar poluído, essa mesma poluição é responsável pela morte de aproximadamente sete milhões de pessoas anualmente.
Agora, pesquisadores começam a estudar os efeitos psicológicos dessa poluição nos indivíduos e que, talvez, os danos causados na mente estejam matando mais do que os males fisiológicos.
Jackson Lu, do MIT (Massachussets Institute of Technology), liderou uma pesquisa que analisou dados criminais dentro de um período de nove anos em mais de 9 mil cidades nos Estados Unidos.
O estudo correlacional ainda incorporou diversas variáveis como população, níveis de emprego, idade e sexo. Entretanto, dentre todas essas a poluição era a que permitia uma previsão maior sobre o aumento nos níveis de criminalidade, ou seja, em cidades em que os indíces de poluição eram maiores também se aumentava a criminalidade.
A poluição é capaz de prever, de acordo com a pesquisa, até seis categorias de transgressões: isso inclui homicídio culposo, estupro, roubo, roubo de carros e assaltos.
Existem diversos mecanismos que demonstram como o ar poluído está afetando nossos julgamentos morais. Por exemplo, a equipe liderada por Lu detectou a influência na mente que apenas pensar em poluição pode causar, devido as suas associações negativas que construímos.
Os cientistas mostraram aos participantes americanos e indianos imagens de cidades em situação de extrema poluição, e ainda os pediram para que se imaginassem vivendo nesses locais.
“Nós os fizemos experimentar psicologicamente os efeitos da poluição. Então, pedimos a eles que realmente se imaginassem vivendo nesta cidade para ver como se sentiriam, para fazê-los experimentarem psicologicamente como seria a sensação de viver num ambiente poluído e num ambiente com ar limpo.”— conta Jackson.
A pesquisa comandada por Lu, também apontou um aumento na ansiedade dos participantes que se tornavam mais autocentrados, esses fatores podem gerar um aumento de irresponsabilidade e comportamento agressivos.
“Como mecanismo de autoproteção, todos sabemos que, quando estamos ansiosos, a probabilidade de socar alguém é maior do que quando estamos calmos. Então, ao aumentar ansiedade das pessoas, a poluição do ar pode ter um efeito prejudicial no comportamento.”— conta o especialista.
Além disso, a equipe também observou, em outros experimentos, que participantes que conviviam sob maior poluição eram mais propensos a trapacear em diversas tarefas e superestimavam seus desempenhos para que fossem mais recompensados.
Diana Younan faz parte de um time da Universidade do Sul da Califórnia (USC), que estudou essa poluição de maneira mais específica, observando as micropartículas PM 2.5 — partículas 30 vezes menores do que a largura de um fio de cabelo— e considerando as consequências acumulativas ao organismo da exposição a esses poluentos por 12 anos.
E novamente, se registrou um aumento nas “transgressões” em regiões com um nível de poluição maior.
“Então, o que pode estar acontecendo é que esses poluentes do ar estão danificando o lobo pré-frontal”— diz Younan.
Essa zona é de extrema importância, ela é responsável por administrar nossos impulsos, a função executiva e o nosso autocontrole.
É tido como certo, devido a este e outros estudos, que essa exposição à poluição pela qual nos submetemos diariamente pode gerar inflamações no cérebro, danificando as conexões neurais e sua própria estrutura.
Fica claro então como a poluição é prejudicial, não só fazendo com que haja uma maior tendência ao crime, como também pode estar silenciosamente corroendo a nossa saúde mental.
Este estudo é apenas a “ponta do iceberg”, as razões para esses impactos — como, por exemplo, o aumento de ansiedade descritos na pesquisa de Lu — podem ser diversas, inclusive alterações no cérebro a nível fisiológico.
“Precisamos de mais estudos mostrando a mesma coisa em outras populações e grupos etários”— Younan.
Quando inspiramos ar poluído, isso tem impacto em quanto oxigênio que temos no nosso corpo em certo instante, reduzindo a quantidade que é enviada para o cérebro.
Fora isso, a poluição gera irritação tanto no nariz quanto na garganta e ainda pode gerar dores de cabeça — todos esses elementos acarretam em problemas de concentração.
Em março de 2019, um estudo demonstrou que adolescentes possuem maior risco de manifestarem episódios psicóticos — como paranoia ou ouvir vozes — quando expostos ao ar poluído.
Joanne Newbury, pesquisadora do King’s College de Londres, explica que mesmo assim ainda não se pode afirmar que estes resultados têm relação causal. Entretanto, a pesquisa está de acordo com os demais estudos que implicaram nessa conexão entre poluição e saúde mental.
“Isso se soma às evidências que ligam a poluição do ar a problemas de saúde física e à demência. Se é ruim para o corpo, é de se esperar que seja ruim para o cérebro”— alerta a pesquisadora.
Fonte: BBC