Uma nova pesquisa conectou bactéria existente no solo com a diminuição dos níveis de estresse, representando para a comunidade científica mais um passo em direção ao desenvolvimento da vacina anti-stress.
No ano passado, os pesquisadores aplicaram uma dose da Mycobacterium vaccae — espécie não patogênica da família de bactérias Mycobacteriaceae que vive naturalmente no solo — em roedores que, após esse processo, foram submetidos a uma situação estressante. Isso impossibilitou que os animais desenvolvessem estresse pós-traumático a curto prazo, e também mais tardiamente.
Essa pesquisa permitiu aos cientistas conjecturarem que o microorganismo sintetizaria substâncias que ajustassem, nos mamíferos, respostas de fuga ou luta no sistema imune.
Agora, a equipe foi capaz de reconhecer a estrutura presente no interior da M. vaccae que causava esses efeitos. Além disso, eles também conseguiram sintetizar o composto em laboratório, desconstruindo a sua ação nas células do sistema imunológico.
“Sabíamos que funcionava, mas não sabíamos porquê. Este novo artigo ajuda a esclarecer isso. Parece que essas bactérias com as quais coevoluímos têm um truque na manga. Este é um enorme passo em frente para nós porque identifica um componente ativo das bactérias e o receptor para este componente ativo no hospedeiro.” — Christopher Lowry, um dos autores da pesquisa, em nota à imprensa.
O lipídio descoberto pela pesquisa se liga a receptores presentes nas células imunológicas e, segundo os especialistas, impede a ação de determinadas substâncias que provocas as inflamações de estresse.
Os cientistas realizaram experimentos nos quais tentaram gerar uma resposta inflamatória em células que haviam sido “tratadas” anteriormente com o lipídio, porém elas apresentaram resistência, implicando que estavam verdadeiramente vacinadas contra a inflamação.
Lowry imagina que dentro de 10 ou 15 anos diversas condições psicológicas, como o estresse, possuirão tratamentos baseados em microorganismos como esta bactéria. Ele também acredita que, apesar de mais estudos se fazerem necessários, a vacina anti-stress será realidade em até 20 anos.
O especialista define a descoberta como somente a “ponta do iceberg”, apontando que a M. vaccae é apenas uma das espécies analisadas pelos cientistas.
“Costumávamos pensar que as microbactérias não eram uma parte importante do microbioma humano”, declarou o pesquisador. “O poder da natureza continua a nos maravilhar e surpreender como cientistas — e estamos ansiosos para aprender mais.”
Fonte: Galileu