Nesta segunda-feira (03), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) liberou a comercialização da insulina inalável no país. O hormônio tem o papel de regular os níveis de glicose na corrente sanguínea, seu uso é de suma importância para o controle da diabetes— doença que pertuba mais de 13 milhões de brasileiros— e normalmente é administrado na forma injetável.
O novo medicamento é uma espécie de pó que, com o auxílio de um inalador, deve ser ingerido pela boca. O assessor científico da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Freddy Eliaschewitz, destacou que esse tipo de insulina é de rápida absorção pelo organismo. O seu formato diminuto— devido a pulverização— permite com que o remédio caminhe diretamente para os alvéolos pulmonares—minúsculas estruturas do pulmão responsáveis pelas trocas gasos na corrente sanguínea— isso permite a insulina controlar mais rapidamente a taxa de glicose no sangue.
“A insulina começa a agir minutos depois da sua ingestão e termina depressa. Sua ação é muito semelhante ao que acontece no organismo de quem não possui diabetes. Quando começamos a comer, o pâncreas excreta insulina e em cerca de sete minutos ela começa a agir sobre o nosso organismo. Ao terminarmos a refeição, ela atua sobre o corpo durante um tempo até estabilizar a glicose consumida”— esclarece o endocrinologista.
A fabricante do remédio afirma que os picos do hormônio sintético são alcançados cerca de 12 a 15 minutos após sua administração e decaem em torno de 3 horas depois. Já no caso das insulinas injetáveis, normalmente, levam cerca de trinta a quarenta minutos para agir e permanecem atuando de quatro a cinco horas no organismo.
“O paciente diabético que usa insulinas injetáveis costuma apresentar maior hiperglicemia no início da refeição, porque a insulina demora a regular os níveis de glicose no sangue, e maior hipoglicemia depois da refeição, pois o alimento já foi absorvido e a insulina continua atuando”— Eliaschewitz.
Contudo, ainda que a novidade tenha sido recebida com bastante euforia, esta não foi a primeira vez: A insulina inalável já havia sido aprovada pela Anvisa muitos anos antes. Em 2007, a agência aprovou a venda de outro fármaco muitíssimo similar a este, entretanto, a produção foi interrompida meses após sua entrada no mercado. A motivação dada pela fabricante, sucedeu-se devido a uma péssima aceitação de mercado— o inalador antes tinha um tamanho bem maior, em comparação ao do novo dispositivo que foi aprovado agora.
Apesar de ser um passo promissor, a insulina inalável ainda não substitui completamente as injeções.
Existem duas tipificações do hormônio: A basal, que tem ação constante no organismo impedindo-o de produzir sua própria glicose de maneira desmedida; e temos também a bolus, que é liberada após uma refeição, onde a taxa de glicose na corrente sanguínea aumenta radicalmente. Sendo que a forma inalável da insulina, substitui somente o segundo tipo.
“Os pacientes acometidos por diabetes tipo 1 precisam usar os dois tipos de insulina. A vantagem é que a insulina bolus deve ser aplicada antes de todas as refeições, enquanto que a basal são duas doses por dia. Isso significa menos agulhadas e melhor qualidade de vida para os diabéticos. Este tipo de remédio também pode favorecer o uso de insulina em pacientes de diabetes tipo 2, quando houver necessidade”—afirma Daniel Kendler, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Além disso, a administração da insulina inalável para pessoas portadoras de doenças respiratórias—tais como asma— fumantes e crianças não é recomendada, pois existe uma falta de estudos que comprovem a eficácia do medicamento nestes quadros.
A dose de insulina inalável é constante e uma das adversidades apresentadas pelo uso do fármaco, é a tosse, que tende a reduzir conforme o tratamento avança.
“Isto pode significar uma certa dificuldade de fazer ajustes em pacientes que precisem tomar doses que sejam diferentes das pré-estabelecidas”— frisa Kendler.
Nos Estados Unidos, o remédio é distribuído desde 2015, e quando a FDA (Food and Drug Administration)— agência federal análoga à Anvisa— aprovou a sua comercialização. A insulina deverá ser disponibilizada no mercado brasileiro até o quarto trimestre de 2019, segundo a fabricante, posteriormente ao registro de preços realizado pela CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos).
fonte: Globo