A doença lúpus eritematoso sistêmico (LES) – conhecida pelos ataques às articulações, pele e rins que são executados pelo sistema imunológico – está ligada a uma mistura anormal de bactérias no intestino, de acordo com um novo estudo conduzido por cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Nova Iorque.
Embora os desequilíbrios bacterianos tenham sido associados a muitas doenças relacionadas ao sistema imunológico, incluindo doenças inflamatórias intestinais, artrite e alguns tipos de câncer, os autores do estudo dizem que seus experimentos são a primeira evidência detalhada de uma ligação entre esses desequilíbrios bacterianos e formas de LES que, potencialmente, oferecem risco de vida.
O novo estudo, publicado no Annals of Rheumatic Diseases on-line, no dia 19 de fevereiro, mostrou que 61 mulheres diagnosticadas com LES tinham cerca de cinco vezes mais bactérias intestinais conhecidas como Ruminococcus gnavus, do que 17 mulheres de idades e origens raciais semelhantes que não tinham a doença e eram saudáveis. O lúpus é mais comum em mulheres do que em homens.
Além disso, os resultados mostraram que as erupções cutâneas da doença podem variar de irritações e dores articulares até disfunções renais graves que requerem diálise, acompanhadas por aumentos significativos no crescimento bacteriano de R. gnavus no intestino, juntamente com a presença de anticorpos especificamente moldados para se ligarem à bactéria, em amostras de sangue de pacientes. Os participantes do estudo com erupções renais apresentaram níveis especialmente altos de anticorpos contra R. gnavus.
Os autores dizem que as causas específicas do lúpus, que afeta cerca de 1,5 milhão de americanos, são desconhecidas, embora muitos suspeitem que os fatores genéticos sejam parcialmente responsáveis.
“Nosso estudo sugere fortemente que, em alguns pacientes, os desequilíbrios bacterianos podem estar impulsionando o lúpus e suas doenças associadas”, diz o pesquisador sênior do estudo e imunologista Gregg Silverman. “Nossos resultados também apontam para vazamentos de bactérias do intestino como um possível gatilho do sistema imunológico da doença, e sugerem que o ambiente interno do intestino pode, portanto, desempenhar um papel mais crítico do que a genética em erupções renais desta doença fatal”. diz Silverman, professor dos departamentos de Medicina e Patologia da NYU Langone Health. Ele também suspeita que os anticorpos contra R.gnavus provocam um ataque imune “contínuo e implacável” a órgãos envolvidos em explosões.
“Entre as conseqüências mais práticas da nova pesquisa”, Silverman diz, “está o desenvolvimento de testes sanguíneos relativamente simples para detectar anticorpos contra bactérias que vazaram, os quais, por sua vez, também poderiam ser usados para diagnosticar e rastrear a progressão e terapia do lúpus, mesmo nos estágios iniciais da doença”. Os testes atuais, ele afirma, são muitas vezes inconclusivos e dependem de sinais e sintomas que só aparecem após a doença já ter avançado.
Silverman, que também atua como diretor associado de reumatologia da NYU Langone, adverte que estudos maiores são necessários para confirmar como essas bactérias podem causar o lúpus. Mas, se futuros experimentos mostrarem resultados igualmente positivos, então isso pode resultar em mudanças das abordagens atuais para o tratamento da doença, que se concentram em medicamentos anticancerígenos imunossupressores para aliviar os sintomas e lesões nos rins.
Se os resultados do estudo forem validados, alguns tratamentos atuais podem, na verdade, estar causando danos se prejudicarem as defesas imunológicas gerais contra a infecção. Em vez disso, diz Silverman, futuros tratamentos podem incluir probióticos baratos ou regimes dietéticos que impedem o crescimento de R.gnavus e previnem crises. Transplantes fecais de indivíduos saudáveis também seriam uma possibilidade.
De modo alternativo, novos tratamentos também poderiam ser usados para promover o crescimento de Bacteroides uniformis – bactérias que impedem o crescimento de R.gnavus no intestino e cujos números diminuíram em até quatro vezes nos participantes do estudo com lúpus quando comparados àqueles sem o doença. Especialistas dizem que mais de mil tipos diferentes de bactérias compõem o microbioma intestinal humano, completa.
Para o estudo, os pesquisadores analisaram amostras de sangue e fezes dos participantes. Os pesquisadores ficaram surpresos ao encontrar fortes reações imunes de anticorpos contra o R.gnavus no sangue, porque o revestimento do intestino impede que a bactéria escape para outras partes do corpo. Os pesquisadores dizem que isso sugere que pequenos pedaços da bactéria, conhecidos como antígenos, devem ter “vazado” no intestino para desencadear a reação imunológica.
Fonte: Scientificamerican