A doença de Chagas foi descoberta há mais de um século e desde então, vem causando óbitos e alterações cardíacas ou digestivas que levam à uma piora na qualidade de vida do indivíduo infectado. Sabe-se que aproximadamente 70% desses pacientes são assintomáticos, ou seja, não desenvolvem nenhuma forma clínica da doença e podem vir à óbito decorrente de outras doenças, mas não necessariamente de Chagas.
Além da transmissão vetorial, a doença de Chagas pode ser transmitida pela via congênita, oral, acidentes laboratoriais, transplante de órgãos e transfusões sanguínea. Goiás e Mato Grosso do Sul inseriram nos exames pré-natais, o teste da Mamãe, a sorologia para doença de Chagas. Num total de aproximadamente 348.000 gestantes triadas em Goiás durante os anos de 2003 a 2009, a doença de Chagas foi a terceira mais diagnosticada, ficando atrás somente de sífilis e toxoplasmose. Esse diagnóstico é muito importante, pois sabe-se que ao triar os filhos de mães infectadas e estes forem positivos, a possibilidade de cura é de 100%.
O Ministério da Saúde disponibiliza dois medicamentos para o tratamento dos pacientes: o nifurtimox e o benznidazol, sendo este último o mais prescrito em nosso estado.
Estima-se que em Goiás haja 200.000 infectados crônicos e que de acordo com o SIM- Sistema de Informação de Mortalidade-em média 750 pessoas vão à óbito decorrente dessa doença em nosso Estado. Segundo informações publicadas na plataforma de Chagas do DNDi, menos de 10% das pessoas com doença de Chagas nas Américas são diagnosticadas, e somente cerca de 1% das que têm a doença recebe tratamento antiparasitário. Os medicamentos atuais, descobertos há meio século, são eficazes durante a fase aguda e o início da fase crônica da doença de Chagas.
Desde 2013, por meio de uma resolução estadual, todos os casos de doença de Chagas crônica passaram a ser de notificação compulsória em Goiás. A partir dos dados obtidos até então pode-se avaliar onde esses pacientes residem, quais são as dificuldades de acesso ao sistema público de saúde, qual forma clínica preponderante, realizar o acompanhamento da liberação do medicamento, além da possibilidade de ampliar e traçar planos na área de vigilância entomológica. Aliado a isso, Goiás está subsidiando as discussões no Ministério da Saúde quanto ao Sistema Nacional de Vigilância da doença de Chagas, ajustando às novas realidades epidemiológicas, sociais, econômicas e ambientais.
No Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, há o Ambulatório e Laboratório especializados no diagnóstico e acompanhamento clínico dos portadores desta doença. Neste há cardiologistas, proctologista e gastroenterologista especializados no atendimento aos pacientes com esta doença. Reuniões entre APAE-GO, SES-GO, Telessaúde e HC foram realizadas objetivando uma melhoria no acesso ao atendimento para esses pacientes, pois verificou-se que a demanda para este hospital é bastante expressiva, uma vez que todos os municípios pactuados com o serviço de regulação da Capital, têm suas consultas agendadas nesta referência. Estima-se que há uma fila de espera com aproximadamente 500 pacientes para o citado ambulatório. Pretende-se ampliar a esfera de especialistas para estes pacientes, pois sabe-se que além do médico, biomédico e enfermeiros, se faz necessário a participação de outros profissionais de saúde como o fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais e psicólogos.
Para tentar solucionar esta longa fila de espera e proporcionar um serviço de qualidade em seus municípios de residência, foi elaborada uma proposta para ser um projeto piloto na regional de saúde de São Luís de Montes Belos, por ser a que possui o maior número de casos crônicos notificados de doença de Chagas em nosso Estado. Representantes do grupo técnico da doença de Chagas do Ministério da Saúde e da Universidade Federal do Ceará foram até o município citado para conhecer essa iniciativa e colaborar com as ações de planejamento no processo de notificação e assistência a esses portadores como continuidade do projeto-piloto para estruturação na linha de cuidado para doença de Chagas, cuja experiência servirá de modelo para outros estados e munícipios brasileiros.
Pretende-se com este projeto, melhorar o acesso à saúde dos portadores de Chagas, sem haver a necessidade de deslocamento dos seus municípios de residência para Goiânia, onde estão os centros de referência para tratamento, dependerem de casas de apoio. Haverá o cadastramento dos profissionais de saúde dos municípios do interior do estado na plataforma do Telessaúde, a qual servirá para estabelecer uma conexão entre os médicos do interior e os especialistas da referência estadual, objetivando auxiliar os profissionais do interior no esclarecimento de eventuais dúvidas referentes ao tratamento e acompanhamento desses pacientes.