Enquanto a maior a parte do DNA reside dentro do núcleo da célula, algum do código genético é guardado na mitocôndria. A visão convencional é que este tipo de DNA é apenas herdado da mãe, mas novas evidências mostram o contrário.

Um novo estudo, publica a 21 de novembro na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, mostra que o DNA mitocondrial humano pode ser herdado da parte do pai, num caso histórico que começou com o tratamento de um menino doente de quatro anos.

A criança, que apresentava sinais de fadiga, dores musculares e outros sintomas, foi avaliada por médicos e testada para verificar se tinha um distúrbio mitocondrial. Quando Taosheng Huang executou os testes – e depois testou de novo para ter certeza – não conseguiu entender os resultados que obteve.

A razão pela qual Huang ficou tão chocado foi porque os resultados do menino mostraram uma mistura – chamada heteroplasmia – no seu DNA mitocondrial, que era composto de contribuições mais do que apenas maternas.

Embora haja evidência de transmissão de DNA mitocondrial paterno noutras espécies, o fenómeno em humanos tem sido debatido, mas nunca antes demonstrado.

Quando as irmãs do menino mostraram evidências da mesma heteroplasmia, Huang e os colegas analisaram do DNA mitocondrial da mãe das crianças, que também mostrou a mesma mistura.

Isto levou a equipa a ir mais longe na árvore genealógica, analisando também o DNA dos pais da mãe – avós do menino doente -, concluindo que o DNA mitocondrial da mãe vinha de aproximadamente 60% da mãe e 40% do pai.

“Os nossos resultados sugerem que, embora o dogma central da herança materna do DNA mitocondrial permaneça válido, existem alguns casos excecionais em que o DNA paterno pode ser passado para os filhos”, explicaram os autores. Embora esses casos possam ser excecionais, não são necessariamente tão raros como os cientistas poderiam imaginar.

No total, os investigadores identificaram três famílias de várias gerações não relacionadas que mostraram um alto nível de heteroplasmia de DNA mitocondrial – variando de 24 a 76% – em 17 indivíduos separados.

“Esta é uma descoberta realmente inovadora”, disse o biólogo Xinnan Wang, da Universidade de Stanford, que não esteve envolvido no estudo. “Isto poderia abrir um campo totalmente novo e mudar a forma como se procura a causa de determinadas doenças mitocondriais”.

Os investigadores dizem que a força da visão anterior – de que apenas a transmissão materna era possível – poderia significar que muitos casos de transmissão biparental, no passado, terão sido negligenciados como erros técnicos.

Seja como for, a evidência é “clara e provocativa” e deve agora iniciar uma avaliação mais ampla das possibilidades do DNA mitocondrial, segundo os investigadores.

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