Em setembro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou um relatório alarmante sobre o câncer: para 2018, a previsão é que a doença tire a vida de 9,6 milhões de pessoas. O número cresceu junto com o envelhecimento da sociedade, porém um terço dos óbitos por câncer é provocado por obesidade, sedentarismo e uso de álcool e tabaco. Até 50% desses casos poderiam ser freados com prevenção básica, detecção precoce e tratamentos mais modernos. A GQ investigou os cinco tumores mais comuns entre homens brasileiros e mostra como fugir dessa estatística.
*Novos casos em 2018: 18.740. O câncer que mais mata no mundo tem total relação com o tabagismo (incluindo charuto, cigarro, narguilé e cachimbo). “A nicotina aumenta em 20 vezes as chances da doença em fumantes e em 30% em fumantes passivos”, explica Gustavo Prado, do Instituto de Câncer de São Paulo Octavio Frias de Oliveira (Icesp). Pare agora, pois após quinze anos “limpo” a probabilidade do surgimento da doença se iguala à de quem nunca colocou um cigarro na boca.
Por quase não apresentar sintomas nas fases iniciais, o câncer de pulmão costuma ser diagnosticado apenas quando já há metástase. “Na população de risco, com histórico de um maço por dia nos últimos 30 anos, uma tomografia é eficaz para diminuir a mortalidade”, diz Thiago Celestino Chulam, do Programa de Medicina Preventiva do Hospital A.C. Camargo. “No tratamento, além da cirurgia de remoção, hoje temos exames que identificam as alterações moleculares do tumor e medicamentos que agem diretamente nelas”, explica Gustavo. O pembrolizumabe, um medicamento imunoterápico, estimula as células de defesa do próprio organismo a identificarem o câncer e o atacarem.
Novos casos em 2018: 2.920 (melanoma) e 85.170 (não melanoma). O câncer de pele se divide entre melanomas, mais agressivos, e basocelulares, mais simples. Nos homens, a doença costuma atingir o tronco e a face com maior incidência depois dos 50 anos. Para prevenir, duas orientações: usar filtro solar diariamente e fazer o monitoramento adequado de manchas e pintas.
“Feridas que coçam e não cicatrizam, pintas assimétricas com cor variável e maiores que seis milímetros podem sinalizar perigo”, diz Joaquim Mesquita Filho, coordenador nacional da campanha de prevenção ao câncer de pele da Sociedade Brasileira de Dermatologia. No tratamento de casos mais simples, a quimioterapia tópica e a terapia fotodinâmica com luz de LED polarizada destroem as células cancerígenas. Nos mais graves, recomenda-se cirurgia.
Estimativa de novos casos em 2018: 68.220. Apesar de ser um dos tipos mais frequentes,as chances de cura deste câncer é altíssimo, contanto que o diagnóstico seja feito precocemente. A partir dos 50 anos, todo homem precisa fazer exame de toque retal e de sangue de dosagem de PSA – negros ou pessoas com histórico familiar devem começar a partir dos 45 anos. “Em 30% dos casos, o paciente só precisa fazer um acompanhamento médico a cada um, três ou cinco anos”, diz Carlos Dazik, oncologista especialista em urologia do Hospital Sírio Libanês.
Com um exame de ressonância nuclear magnética da área é possível avaliar se há necessidade de cirurgia ou de quimioterapia. “Dos casos que precisam, cerca de 80% apresentam cura”, ressalta o urologista Claudio Murta, do Icesp. “Hoje, medicamentos orais que inibem a utilização da testosterona pelas células cancerígenas conseguem retardar o avanço de metástase”, diz Claudio. Por fim, vale lembrar que a obesidade pode estimular o surgimento desse tipo de tumor. “O tecido adiposo pode alterar o metabolismo de alguns hormônios sexuais e também produz uma inflamação crônica no organismo que é maléfica para as nossas células”, destaca Carlos.
Estimativa de novos casos em 2018: 17.380. A principal maneira de evitar esse tipo de câncer é manter uma dieta equilibrada e composta de frutas, verduras, grãos e sementes. De acordo com o Inca, o consumo de bebidas alcóolicas, embutidos e carne vermelha (acima de 300 gramas por semana) são fatores de risco. “Você não precisa deixar de comer esses alimentos, contanto que também coloque fontes de fibras no prato, para aumentar a absorção de água pelo bolo fecal e reduzir a exposição da parede do cólon às substâncias cancerígenas”, explica o oncologista Jorge Sabbaga, do Hospital Sírio Libanês. Se operado em estágio inicial, ele tem 90% de chances de cura.
Porém, quando há metástase, esse índice cai para apenas 10%. A vantagem é que o tumor na região do intestino apresenta vários sintomas antes de se agravar. “Sangue nas fezes e qualquer mudança no hábito de ir ao banheiro são razões para procurar um médico”, orienta Jorge. Homens a partir dos 50 anos devem fazer endoscopia (colonoscopia ou retossigmoidoscopia) a cada três ou cinco anos, que é o tempo que a lesão inicial costuma demorar até evoluir para um câncer. “Para o tratamento, retiramos a parte do intestino e seguimos com quimioterapia”, esclarece o médico.
Estimativa de novos casos em 2018: 13.540. Quando não havia geladeiras em todas as casas, o câncer na área central do estômago era o mais comum, devido à conservação precária dos alimentos. “Hoje, a parte alta, na junção com o esôfago, é a mais atingida”, afirma Jorge. Esse tumor também tem relação com o tabagismo e o consumo excessivo de bebidas alcóolicas, enlatados e corantes. “A obesidade é um fator significativo de risco porque eleva a frequência de refluxos.” Além da prática de atividade física, o Inca recomenda a ingestão de alimentos ricos em vitamina C e betacaroteno.
Encontrados em frutas e verduras frescas, eles evitam que os nitritos (conservantes usados em produtos industrializados) se transformem em nitrosamina, um agente cancerígeno. “O grande problema do câncer de estômago é que a mortalidade é alta, pois não existem políticas de incentivo à realização de exames de diagnóstico precoce. Em um ano, o tumor pode se tornar muito agressivo.” Fique atento, então, aos poucos sintomas que ele pode manifestar: queimação, empachamento, azia e refluxo frequentes ou que duram mais de um mês.
Entre os tratamentos estão a retirada cirúrgica do estômago ou a quimioterapia e a radioterapia. Estudos recentes também apontam o pembrolizumabe como uma alternativa menos tóxica em alguns casos.
Fonte:GQ Brasil