Uso de plantas do cerrado como antimicrobianos contra microrganismos patogênicos

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A utilização de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos para a recuperação da saúde é uma prática comum, sendo produto do acúmulo secular de conhecimentos populares. Um dos fatores que contribui para a utilização de plantas para fins medicinais no Brasil é o grande número de espécies vegetais encontradas no país, entre elas o cerrado. De acordo com SIVIERO et al., 2012, o estudo das plantas medicinais possibilita o entendimento das bases racionais para o uso medicinal de algumas espécies vegetais e o consequente desenvolvimento de fitoterápicos a baixo custo.
Analisando o levantamento bibliográfico verificamos que segundo MICHELIN et.al. 2005, a Davilla elliptica, não demonstrava nenhum potencial antimicrobiano, foi o que um estudo realizado com as folhas e as cascas do vegetal, pôde constatar frente a alguns microrganismos de importância médica. O método utilizado pelos autores foi disco-difusão; método de fácil execução e a reprodutibilidade, contudo, exige um controle de qualidade rigoroso (SAÚDE, 2012), o que talvez ocasionou a ineficiência do estudo realizado, já que outros relatos comprovam o potencial antimicrobiano da Davilla elliptica. Em 2009, SOARES; et.al., usaram o extrato da folha de Davilla elliptica, frente a microrganismos Gram positivo e Gram negativo e frente ao fungo Candida albicans, obtendo resultado satisfatório, onde os extratos etanólicos brutos de D.elliptica apresentaram atividade antimicrobiana contra os microrganismos testados. Porém os mesmos utilizaram o método de diluição em ágar, a escolha dessa técnica trás a vantagem de testar um grande número de amostras simultaneamente além do baixo custo.

A família Asteraceae, destacando-se o gênero Baccharis espécie dracunculifolia. Tem sido analisada quanto ao seu potencial antimicrobiano, em 2007, FERRONATO, et.al, utilizou óleos essenciais dessa planta, frente as cepas de E.coli (ATCC 25922) S.aureus (ATCC 25923) Pseudomoas aeruginosa (ATCC 27853), pelo método de disco-difusão, os mesmos mostraram-se eficientes em inibir o crescimento dos microrganismos testados. ABREU& ONOFRE; 2010, utilizaram as folhas do vegetal, avaliando o potencial antimicrobiano pelo método de difusão em disco sobre as bactérias patogênicas E.coli(ATCC 2592) e S.aureus (ATCC 2592), onde verificaram a eficiência dos extratos obtidos de B.dracunculifolia na inibição do crescimento de todas as bactérias estudadas.

O Cocholospermun regium vem se destacando devido o seu potencial antimicrobiano, teve sua atividade demonstrada por SOLON, em 2009 que utilizou como matéria prima o extrato obtido da raiz do vegetal, através do método de difusão em ágar. SOLON (2009) analisou a ação antimicrobiana da planta frente a cepas de S. aureus, E. coli, K. pneumoneae,E. faecalis, obtendo como resultado, o efeito inibitório em todas as amostras testadas de S. aureus e P. aeruginosa e ausência de atividade sobre E. coli, E. faecalis e K. pneumoneae. Outros autores também têm relatado a ação antimicrobiana de Cocholospermun regium, SANTOS, et.al., 2012, utilizando as mesmas cepas padrões, a folha e raiz e empregando métodos como disco-difusão e micro diluição, obtiveram resultados satisfatórios pelo método de disco – difusão, que apresentou inibição no crescimento para as cepas de E.coli e S.aureus. Além das cepas padrões, foi testada a ação antifúngica das frações contra C. krusei e C. parapsilosis que também apresentaram inibição do crescimento. No teste de micro diluição foi avaliada somente a atividade antifúngica, obtendo resultados significativos para C. glabrata.
Em 2010, NADER realizou um estudo utilizando como metodologia amicrodiluição em caldo com o extrato obtido a partir da raiz de Croton antisyphiliticus, e verificou que não houve inibição satisfatória para S. aureus. Entretanto, REIS (2013), através da mesma metodologia proposta por NADER

(2010), demonstrou que a planta possui ação antimicrobiana frente à cepa de Staphylococcus aureus (ATCC 6538).
Com relação ao gênero Eugenia, espécie dysenterica, NADER (2010), avaliou extratos das folhas da planta sobre S. aureus, pelo método de microdiluição em caldo e nenhum desses extratos avaliados apresentou atividade antimicrobiana in vitro. O mesmo não foi verificado por JUNQUEIRA (2007) que relatou a ação dessa planta frente à Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis e em menos magnitude sobre Escherichia coli, pelo método de difusão em ágar, foram apresentados os maiores halos de inibiçãopara S. aureus.
A partir de trabalhos realizados utilizando o óleo essencial de Lippia sidoides, BERTINE, et al (2005) e OLIVEIRA, et al (2006) mostraram através dos métodos de difusão em ágar e microdiluição em caldo, que houve inibição no crescimento de S. aureus. Já com o extrato, nos estudos mencionados, a atividade antimicrobiana foi razoável sobre as cepas analisadas. Em 2009, SILVA, et al, demonstrou a ação de seu extrato através da técnica de microdiluição em caldo, onde a Lippia sidoides apresentou grande potencial antimicrobiano frente ao Staphylococcus aureus. Além de estudos realizados com o extrato da planta, também são encontrados diversos estudos realizados com seu óleo essencial que têm mostrado significativa atividade antimicrobiana.
As propriedades antimicrobianas de plantas estão sendo amplamente pesquisadas, no entanto, há pouca informação disponível sobre os mecanismos de ação destes compostos antimicrobianos em bactérias e fungos (SÁNCHEZ; GARCÍA; HEREDIA, 2010). Mesmo com o desenvolvimento de fármacos sintéticos, a utilização de plantas medicinais, baseadas na cultura, ainda está bastante presente. Assim, a identificação das várias utilizações de plantas medicinais, incluindo as nativas do cerrado, pode direcionar estudos que demonstrem a eficiência e eficácia do uso de plantas como agentes antimicrobianos, uma vez que os mecanismos de resistência dos microrganismos aos fármacos convencionais vêm crescendo expressivamente nos últimos tempos. Em nossa região ainda há um déficit muito grande de informações nessa área, pois, são poucos os pesquisadores que se aventuram a explorar esse potencial. Sendo assim, a iniciativa desse estudo espera
contribuir para o enriquecimento de informações no que diz respeito à ação de plantas como agentes antimicrobianos.

2.1. PLANTAS MEDICINAIS DO CERRADO 2.1.1. Davilla elliptica (Lixeirinha) 2.1.2. Baccharis dracunculifolia (Alecrim-do-campo)
2.1.3. Cochlospermum regium (Algodão-do-cerrado)
2.1.4. Croton antisyphiliticus (Pé-de-perdiz)
2.1.5. Eugenia dysenterica (Cagaita)
2.1.6. Lippia sidoides (Alecrim pimenta)

Algumas plantas nativas do cerrado têm sido usadas para pesquisa de novos antimicrobianos dentre elas estão: Baccharis dracunculifolia (alecrim do campo), Cochlospermum regium (algodãozinho do campo), Croton antisyphiliticus (pé de perdiz), Eugenia dysenterica (cagaita) e Lippia sidoides (alecrim pimenta) (NADER; et al. 2010) e Davilla elliptica (lixeirinha) (SOARES; et al., 2009).
A espécie Davilla elliptica, pertencente à família Dilleniaceae, constituem uma família de plantas nativas de regiões tropicais e subtropicais, é uma entre as inúmeras espécies vegetais que são investigadas quanto ao potencial medicinal. D.elliptica é um arbusto, também conhecida como cipó-caboclo e pau-de-bugre, que ocorre naturalmente no bioma Cerrado. Estudos realizados nos municípios goianos de Alexânia e Goiânia utilizando a folha desta planta demonstraram que a mesma possui ação antimicrobiana frente a microrganismos Gram positivos, Gram negativos e ao fungo C. albicans.(SOARES; et al., 2009).

Estas plantas são extremamente diversificadas na aparência são geralmente pequenas ervas arbustos ou raramente árvore. As plantas desta família têm sido extensivamente estudadas para a sua composição química e atividade biológica, o que levou ao desenvolvimento de novas drogas, inseticidas e outros agentes químicos (CUZZI, et al., 2012). Os extratos obtidos de B. dracunculifolia, quando avaliados sobre as bactérias patogênicas Escherichia coli (ATCC 25922-beta-lactamasenegativa) e Staphylococcus aureus (ATCC 25923 – suscetível a oxacilina e penicilina), mostraram-se eficientes na inibição do crescimento (ABREU & ONOFRE, 2010).

No Brasil, C. regium é comum na vegetação do cerrado e campos da Amazônia, onde é considerada como planta forrageira, ornamental e medicinal. Esta espécie é decídua e heliófita, com porte arbustivo podendo atingir até 2m de altura. O efeito antibacteriano da raiz de C. regium foi demonstrado sobre cepas de S. aureus e E.coli obtidas em um estudo com pacientes do Hospital Universitário-UFMS (isoladas no Laboratório de Microbiologia-UFMS) no teste de difusão em disco onde os extratos hidroetanólico promoveram inibições semelhantes aos antibióticos padrões, vancomicina e cefoxitina (SOLON, 2009).
A Croton antisyphiliticus, conhecida popularmente como canela-de-perdiz ou curraleira, é uma planta arbustiva do cerrado brasileiro, encontrada principalmente no estado de Minas Gerais. Estudos in vitro com a fração clorofórmica da raiz da planta têm demonstrado ação antimicrobiana frente à cepa de Staphylococcus aureus (ATCC 6538) (REIS, 2013).
A planta é popularmente conhecida como cagaiteira, tratando-se de uma árvore melífera, ornamental, que produz frutos comestíveis detentores de propriedades laxantes. É encontrada em todo o Brasil central, sendo típica do Cerrado. Os extratos aquosos e hidro alcoólicos das folhas Eugenia dysenterica, em ordem de magnitude, apresentam atividade inibitória sobre Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis e em menor magnitude sobre Escherichia coli. (JUNQUEIRA, 2007).
É um grande arbusto caducifólio, ereto, muito ramificado e quebradiço, possui cerca de 2 a 3 m de altura, os frutos são do tipo aquênio, muito pequenos e as sementes raramente germinam. O extrato da Lippia sidoides tem sido sugerido como um grande potencial antimicrobiano frente Staphylococcus aureus, o que permite que o uso dessa planta seja futuramente, baseado em
estudos de toxicidade in vitro, uma medida alternativa para tratar enfermidades causadas por esses microrganismos (SILVA, 2009).

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