Um estudo de coorte retrospectivo publicado na revista Journal of American Geriatric Society avaliou as prescrições de 1.900 idosos internados no primeiro semestre de 2015. As medicações foram analisadas nos primeiros e nos últimos dias da internação, considerando a possibilidade de serem potencialmente inapropriadas (em inglês, PIM) e analisadas segundo os protocolos: critérios de BEERS e STOPP (Screening Tool of Olders People Prescription). Foi feita uma comparação entre as especialidades medicina interna, cardiologia, gastroenterologia, moléstias infecciosas, nefrologia, neurologia e pneumologia quanto à prevalência e o surgimento de PIMs durante a internação.
Os dois critérios mostraram aumento do número de PIMs, de 62.3% para 66.6% (Beers) e 43.4% para 50% (STOPP). As prescrições potencialmente inapropriadas mais comuns foram: insulina regular “escala móvel” (o famoso protocolo de insulina regular; 26.9%), clonazepam (9.5%) e periciazina (6%), de acordo com os critérios de Beers, e espironolactona (10.3%), AAS (9.8%) e periciazina (8.7%), de acordo com o STOPP. As especialidades com maiores porcentagens de PIMs foram: neurologia, moléstias infeciosas e pneumologia. Neurologia, pneumologia e cardiologia tiveram um grande aumento na incidência de PIMS durante o transcorrer da internação.
O processo de envelhecimento leva a alterações farmacodinâmicas e farmacocinéticas no organismo, que predispõe o indivíduo idoso a sofrer pela prescrição de medicações inapropriadas podendo resultar em aumento do tempo de internação, efeitos adversos e morte. Além da idade, sexo feminino, polifarmácia, mau estado de saúde e múltiplas comorbidades são fatores preditivos para receberem essas prescrições.
Além disso, as diferentes especialidades médicas apresentam características específicas de suas prescrições, muitas vezes devido à maior vivência de determinadas patologias por cada área, de seu treinamento prévio e das drogas disponíveis.
A conclusão do estudo cita a grande e crescente prevalência de PIMS no ambiente hospitalar, de acordo com esses dois critérios, de forma que o hospital pode ser considerado um ambiente potencialmente iatrogênico para os idosos. Prescrições “consagradas pelo uso” como a escala de insulina regular deve ser fortemente desencorajada pelo risco de hipoglicemia, principalmente durante a noite. Para pacientes em UTIs, regimes de insulina em bomba, baseados na medida de glicemia capilar, são mais seguros. Para pacientes que estejam fora de uma UTI, ou seja, não tão graves, um regime de insulina basal é recomendado.
Em relação ao preocupante uso excessivo de benzodiazepínicos, infelizmente, ainda muito comum em idosos, seus riscos são conhecidos de longa data, como: declínio cognitivo, quedas, dependência, deliriume sonolência excessiva. Já a periciazina, antipsicótico antigo, apresenta grande efeito anticolinérgico, com alto risco de causar sonolência, quedas, induzir delirium e AVC.
De acordo com os critérios do STOPP, espironolactona é considerada inapropriada quando associada com outras medicações poupadoras de potássio, como inibidores da enzima conversora de angiotensina, antagonistas do receptor de angiotensina II, e amilorida, quando não é realizada a monitorização dos níveis séricos de potássio. Ácido acetilsalicílico é inapropriado em doses maiores de 160 mg/dia, pelo risco de úlcera péptica ou quando associado com agentes antitrombóticos, em indivíduos com alto risco de sangramento ou fibrilação atrial, ou se associado com clopidogrel, na prevenção secundária de acidente vascular cerebral (exceção quando da realização de angioplastia nos últimos 12 meses, insuficiência coronária aguda ou estenose carotídea sintomática).
Todos esses achados do estudo reforçam a necessidade de vigilância e atenção quando se prescreve para idosos, para que as PIMs possam ser evitadas. Elas poderiam ser diminuídas através de programas educativos e intervenções farmacêuticas específicas para cada especialidade.